quarta-feira, 19 de julho de 2017

SANHARÓ (CAPÍTULO 7)

     Fazia uma semana que chovia forte. O rio havia se encorpado e parecia transbordar de felicidade. Ele brincava com os galhos que caíam das árvores e parecia cantar músicas de roda, quase como se fosse uma criança feliz. De vez em quando, alguém chegava à sua margem, mas, em geral, ele passava toda a semana, solitário, brincando com os galhos e o tempo; e ficava olhando de longe para ver perfeitamente se acontecia alguma coisa de muito interessante, mas, constantemente, era a mesma coisa de sempre, a mesma paisagem, os mesmos animais e, enfim, a mesma solidão.

       O tempo, que antes daquela chuva era tão quente quanto um forno, agora estava muito frio; as folhas das árvores estavam todas verdes, mas, como era forte o vento que chegava, eram poucas as que se mantinham firmes nas copas. Eram poucos aqueles que saíam de casa. Vez por outra, Justino passava por ali, montado num velho cavalo branco, direto para a venda do Cristino, ora para buscar pinga, ora para buscar fumo ou pilhas para o rádio. Gentil passava pouco também; no mais, era só para olhar um pouco a lavoura, e, quase sempre, dava um suspiro, resmungava um tanto com o tempo e voltava para casa. Os meninos pouco saíam de casa, a não ser Loriano que dera de endoidar de vez e, comumente, fugia pelado de casa e ficava horas mergulhando naquelas águas frias.
 
         O Sanharó gostava dos meninos e quando Loriano chegava endoidecido, ele o abraçava e esquentava todo o seu corpo, como se fosse um manto de algodão. O garoto parecia deliciar-se com o aconchego daquele abraço e se deixava afundar naquela sensação apaziguadora, até que Justino chegasse e, pegando pelas orelhas, o arrastava de volta para a casa. O rio gostava de ver que aquela cena se passava em suas águas e parecia sorrir para aqueles dois, e, se alguém parasse para escutá-lo, ele, certamente, haveria de dizer: “Vão meus filhos, sejam felizes e, quando, se algum dia, precisarem de mim, saibam que eu vos acolherei”.


       Era bem início do mês de Dezembro e brevemente chegaria o natal, o rio já se enchia todo no espírito natalino, talvez esperando a vinda do salvador. Alguns pássaros, escondidos nas copas das árvores próximas, começavam a entoar alguns cânticos, ainda que o fizesse um pouco ainda timidamente; eram os bem-te-vis, as juritis e os joões de barro. Chovia forte, mas parecia que era algo que todo mundo do sertão já, há tempos previa, que aquela chuva não tardaria a ter um fim. Os peixes começavam a reaparecer para tomar o ar limpo do natal e alguns tatus já começavam a sair das suas tocas. O Sanharó brincava com suas margens e parecia saudar, bem ao seu estilo, cada bicho ou alma vivente que lhe aparecia , fosse ele bicho homem ou alguma das tantas espécies animais.

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