quinta-feira, 20 de julho de 2017

SANHARÓ (CAPÍTULO 9)

No bem de se dizer, a vida era triste em demasia e o tempo parecia ser o grande inimigo de todas as coisas. Todo aquele povo estava amontoado naquele casebre à beira do rio; era como se se formasse uma grande família e, juntos, viviam as poucas alegrias e as várias desavenças da convivência diuturna.

      As horas, por mais que reclamassem da sorte, nunca que parecia passar e a cada minuto aquela morrinha se tornava em tédio, agonia, quase em desespero, e havia também a chuva que teimava em não querer mais parar. Às vezes, ficavam uns dois dias sem chover, mas logo era uma semana inteira sem trégua de sol ou estiagem. Os homens não podiam ir para as roças, as crianças não podiam trabalhar e nem brincar nas árvores do terreiro e, nessa mesmice, a vida virava sempre uma muita aporrinhação. Luzia ajudava Margarida nos afazeres da casa, mas o serviço era escasso e, logo, viam-se as duas ociosas, sem ter nada para fazerem e nenhum assunto para travar em conversa; Justino e Gentil, por sua vez, se aquietavam na sala, ora jogando baralho, ora dicrocados junto à porta, olhando a chuva cair, reclamando dos desmandos do tempo:

- Tempinho desgraçado este, né Justino?

          - É verdade Gentil. As roça tá tudo é quase morrendo afogada; se num parar de chover logo, nós vai perder tudo que nós plantamos.
                          
      - Ora, miséria... É esse tempo danado... Esse tempo que num tem nem um pouco de dó...


      As conversas entre Justino e Gentil quase nunca passavam de pequenos resmungos e reclamações, eram quase que apenas gestos monossilábicos e, logo, cada um se recolhia a um canto e começavam a remoer as suas devidas solidões. Cada um parava nas suas divagações e ficava por longos tempos a fitar as nuvens negras que pairavam sobre as copas das árvores e deixavam cair de dentro de si grandes quantidades de água.

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