O homenzinho desce da
árvore. O sol já começa a nascer detrás do morro. Do outro lado, a lagoa
reflete um brilho forte, quase ofuscando os seus olhos. A espingarda, que
descansava junto a um galho próximo, desce primeiro. Ele a desce devagar,
segurando pelo cabo. Depois, pega o chapéu de palha, que se agarrava à ponta de
outro galho menor, ajeita o cabelo bastante negro e o assenta com cuidado. Mais
uma noite perdida.
Já no chão, esticando a
coluna, judiada por toda uma noite mal dormida sobre um pequizeiro, o
homenzinho excomunga o catingueiro. Bicho disgramado, deixa a gente toda a
noite esperando à toa.. À toa! Depois, já recomposto e mais tranquilo, olha
para a lagoa e pensa que, à noite, vai descer é para lá, pegar uns peixes,
levar um litro de pinga, pescar a noite inteira debaixo da lua. Só não pode é
chover... Mas com esse tempo doido, talvez nem nunca mais chova!
Enquanto desce por entre as
macambiras, o homenzinho lembra de Dragão. Aquilo é que era cachorro de verdade.
Tivesse ele ainda, nem que fosse um Peba levaria para casa. Aquilo que era
cachorro! A espingarda balança de um lado para outro, tocando suas costas,
dançando no ar. Bem que podia vender essa bicha, compraria uma bicicleta, ou,
quem sabe, até um cavalo. Correria todo o lugar no lombo do bicho...
A venda ainda está fechada.
Assenta-se no banquinho do lado da porta e fica esperando. O sono pesa os seus
olhos. A roça, se quiser, que espere! Hoje é dia de descansar! Não tem certeza
se é domingo ou segunda. Ainda não são nem seis horas. O jeito é esperar. O
jeito é tomar uma pinga e ir dormir. À noite, se não chover, descerá para a
lagoa. Os peixes ele pegará, com certeza. Mas, se Dragão ainda existisse,
pegaria o catingueiro e ainda traria um Peba de lucro. Aquilo é que era
cachorro! Aquilo é que era!