terça-feira, 10 de outubro de 2017

CLÁUDIO

Sentado em uma pedra, Cláudio olhava para o céu. A chuva não tarda a chegar. E este pensamento ia se misturando a tantos outros que povoavam a sua mente. No dia de São Miguel havia chovido um pouquinho, bem pouco mesmo, algo como uma garoa, que nem bem molhara a terra. O ano que vem não será bom pra chuvas, a não ser que tudo vire. Se Deus não tiver dó, tudo isso aqui vira um grande deserto...

Cláudio se benzeu três vezes, procurou uma madeira e deu três pancadinhas. Que Deus perdoasse, às vezes, a gente pensa umas coisas meio sem pé nem cabeça. Mas o ano que vem não deve ser mesmo bom de chuva. Este ano começou até agradável, com pancadas para o lado de Pitão, algumas invernadas vindas de Água Boa e, dizem, no sul de Minas tinha chovido bastante; depois, já passado o meio do ano, tudo descambou para essa secura desvairada.

Ás vezes, Cláudio tinha vontade de xingar ao céus, dizer mesmo alguns palavrões, pôr para fora todas as suas insatisfações. Mas, e se Deus castigar?! O melhor era ficar quieto, guardar tudo dentro de si e rezar para que as coisas melhorassem. Onde ele estava já fora um rio frondoso, de águas violentas, tudo verde e bonito. Agora, tudo virou isso aqui: apenas pedras e terra, um toazão, só pedra e pó. A maioria dos sitiantes foi para a cidade. Alguns montaram vendas e vendem pinga para os que não arrajaram grandes coisas e viraram apenas beberrões, aguentando os desaforos dos filhinhos de papai, que acham que são os donos do mundo.


Cláudio, ás vezes, também pensa em ir para a cidade. Se vender o burro com a carroça, a casinha e a vaquinha com o bezerro, talvez dê para montar uma venda... Mas, e se nada der certo? E se um dos filhinhos de papai me encontrar pela rua, deitado nalguma esquina, embriagado, dormindo no relento? Não sou homem para aguentar desafios! O jeito é ir ficando, esperando pela chuva, que nunca vem.  

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