Já perto da
aposentadoria, Pedro fizera uma promessa: quando se aposentasse, compraria um
sítio, lá mesmo no Tabocal, e tomaria conta das casas de todos os outros
sitiantes. Ele não queria criar gado, carneiro ou galinhas; plantaria algumas
plantinhas, que molharia duas vezes ao dia, e, enquanto tivesse forças,
vigiaria as casas dos outros, que não podiam ficar o tempo todo na roça.
Pedreiro de mão cheia, quase nunca ficava sem
serviço, mas, a cachaça e as mulheres nunca o haviam permitido comprar sua
terrinha. De segunda à sexta ficava na cidade. Morava num pequeno barraco, sem
reboco, que construíra com a ajuda do irmão, que mora em São Paulo e vem
visitá-lo uma vez ao ano. Nos finais de semana, punha-se a rodar pelos sítios
do Tabocal. Almoçava na casa de algum conhecido, tomava o café da tarde nalgum
botequim por ali e jantava e dormia na casa de outro amigo.
A aposentadoria
demorara um pouco mais do que o esperado. Aposentara-se com três anos de
atraso. Dez por cento do que recebera atrasado foi para a conta do advogado,
enquanto boa parte do que restara serviu para comprar a sua terrinha, uns
quatro campos de futebol. A terra não era boa para o cultivo, nem havia água
para irrigação. Recebia a água do poço artesiano, que servia a todos e era
controlada pelo presidente da associação. Vendera o barraco que tinha na
cidade, construiu uma casinha para morar, simplesinha, mas acolhedora. Arranjou
quatro cachorros, que perambulavam solitários pelas ruas, e sentia-se feliz.
Todos já conhecem os
hábitos de Pedro. Alguns já nem trancam mais a porta de casa e outros ainda
deixam um lanchinho para que ele possa se alimentar. Uns, mais folgados, faz
tempo que não voltam ao Tabocal. Pedro não importa, nem se sente explorado.
Tira a poeira dos móveis, varre a porta das casas, molha as plantas, dá de
comer aos animais, tira o leite das vacas e, já tarde da noite, volta feliz para
casa. Agora ele possui uma razão para viver.
Tenho um amigo que trocou a agitação da capital pela tranquilidade de viver nas barrancas do Rio São Francisco.
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