segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

O SONHO DE LUCAS


- Quando eu crescer, vou ser jogador de futebol! - E, por muito tempo, este foi o único pensamento de Lucas.
            Durante muitos anos, enquanto menino, corria descalço pelos peladores de Coração. Jogava no campinho de Menon, Detrás do Parque, no Buriti, no Diamante, no Caldeirão, no Aeroporto e até no Renovação. Não era um exímio futebolista, mas, voluntarioso, sempre estava no meio dos outros meninos, quebrando um galho de lateral, meia, volante, atacante, zagueiro e até de goleiro se precisasse.
            - Você não vai passar. – Essas foram as palavras do pai, numa madrugada, antes que Lucas saísse para pegar o ônibus que o levaria, junto com outros quarenta meninos, para uma “peneira” em BH, no CT do América.
            Campo bom, verdinho, parecendo um tapete. A bola corria rápida. Os meninos fintavam, chutavam, corriam de um lado para outro, feito loucos. Lucas não pegara na bola e, logo, foi desclassificado. O pai tinha razão.
            Não queria mais ser jogador de futebol, mas ainda jogava bola com os meninos. Agora, já rapazinho, tinha que trabalhar. Estudava de manhã, vendia picolés à tarde, e, antes que anoitecesse, batia as suas peladas. Já não corria como antes, nem marcava como antigamente. Afixara-se como zagueiro e vivia de dar balões para o ataque.
            Com o tempo, abandonara a escola. Já havia tomado duas bombas e o pai, então, resolvera colocá-lo para trabalhar de verdade. Foi ser servente de pedreiro, fazer massa, traçar concreto, carregar carrinhos cheios de tijolo, areia e brita. As peladas resumiram-se às tardes de domingo, quando rodava pelas roças, disputando torneios com os outros rapazes.
            Com dezoito anos, Lucas resolvera que era a hora de partir, procurar coisas melhores, ver se virava alguém na vida. Despediu-se do pai, beijou a mãe e foi embora para BH. Disse que ia morar na casa de um tio, que trabalhava de vidraceiro em Lourdes, próximo a Cidade do Galo.
            Depois de uma semana de viagem, Lucas ainda não havia chegado à casa do tio. Os pais, desesperados, foram à polícia, colocaram anúncios na rádio e na internet, viajaram para BH, refazendo o trajeto do rapaz, talvez o encontrassem em alguma parada à beira da estrada. Não o encontraram.
            Passado muito tempo, Lucas não aparecera na casa do tio, nem voltara para a casa dos pais. Talvez tenha descido em alguma cidadezinha antes de BH, ou tivesse ido para um lugar mais adiante. O certo é que nunca virara jogador de futebol. Ele não era bom o bastante.
           

            

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