- Quando eu crescer, vou ser jogador de
futebol! - E, por muito tempo, este foi o único pensamento de Lucas.
Durante
muitos anos, enquanto menino, corria descalço pelos peladores de Coração. Jogava
no campinho de Menon, Detrás do Parque, no Buriti, no Diamante, no Caldeirão,
no Aeroporto e até no Renovação. Não era um exímio futebolista, mas,
voluntarioso, sempre estava no meio dos outros meninos, quebrando um galho de
lateral, meia, volante, atacante, zagueiro e até de goleiro se precisasse.
-
Você não vai passar. – Essas foram as palavras do pai, numa madrugada, antes
que Lucas saísse para pegar o ônibus que o levaria, junto com outros quarenta
meninos, para uma “peneira” em BH, no CT do América.
Campo
bom, verdinho, parecendo um tapete. A bola corria rápida. Os meninos fintavam,
chutavam, corriam de um lado para outro, feito loucos. Lucas não pegara na bola
e, logo, foi desclassificado. O pai tinha razão.
Não
queria mais ser jogador de futebol, mas ainda jogava bola com os meninos. Agora,
já rapazinho, tinha que trabalhar. Estudava de manhã, vendia picolés à tarde,
e, antes que anoitecesse, batia as suas peladas. Já não corria como antes, nem
marcava como antigamente. Afixara-se como zagueiro e vivia de dar balões para o
ataque.
Com
o tempo, abandonara a escola. Já havia tomado duas bombas e o pai, então,
resolvera colocá-lo para trabalhar de verdade. Foi ser servente de pedreiro,
fazer massa, traçar concreto, carregar carrinhos cheios de tijolo, areia e
brita. As peladas resumiram-se às tardes de domingo, quando rodava pelas roças,
disputando torneios com os outros rapazes.
Com
dezoito anos, Lucas resolvera que era a hora de partir, procurar coisas
melhores, ver se virava alguém na vida. Despediu-se do pai, beijou a mãe e foi
embora para BH. Disse que ia morar na casa de um tio, que trabalhava de
vidraceiro em Lourdes, próximo a Cidade do Galo.
Depois
de uma semana de viagem, Lucas ainda não havia chegado à casa do tio. Os pais,
desesperados, foram à polícia, colocaram anúncios na rádio e na internet,
viajaram para BH, refazendo o trajeto do rapaz, talvez o encontrassem em alguma
parada à beira da estrada. Não o encontraram.
Passado
muito tempo, Lucas não aparecera na casa do tio, nem voltara para a casa dos
pais. Talvez tenha descido em alguma cidadezinha antes de BH, ou tivesse ido
para um lugar mais adiante. O certo é que nunca virara jogador de futebol. Ele
não era bom o bastante.
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