Elismar Santos
Já fazia cerca de um mês, senão mais, que Juca perambulava pelo sertão.
Não fazia a mínima ideia de onde estava, se seguia para a margem de algum rio
ou se se embrenhava mato adentro pelos sertões. Lembrava-se do ribeirão que
viera seguindo até certa parte do caminho; depois, enquanto mais se afastava
dele, perdia, rapidamente, as suas orientações. As árvores, a vegetação, a
terra, tudo era exatamente igual até ali: tudo era extremamente seco e sofrido.
O sol, sempre forte e perverso, parecia desnorteá-lo e a cada dia lhe
parecia nascer de um lado diferente. O homem já não era capaz de retornar à sua
casa, assim como também não tinha mais a capacidade de chegar a lugar algum por
seus próprios conhecimentos. Andava a esmo, observando os pássaros e o vento;
às vezes, sentia como se estivesse andando em círculos, num terrível labirinto.
Daí, num de seus tantos pensamentos já desencontrados, chegara à terrível
conclusão de que o sertão é um grande monstro pronto a engolir os seus
filhos.
Juca já não tinha forças suficientes para seguir. Já não andava mais que
duas ou três léguas num único dia; deixava que o cavalo o levasse de acordo com
a conveniência do animal. Assim, arrastavam-se, ambos, pela estrada durante uma
parte do dia; depois, desfazia os arreios, soltava o bicho e deitava-se debaixo
de algum pequizeiro, na esperança de que alguma coragem lhe viesse ao corpo. De
noite, sentia febre, e o couro já não lhe era capaz de esquentar, assim como
não o fazia o fogo. Não tinha medo de morrer, e esse pensamento até apaziguava
um pouco a sua alma.
Certa noite, enquanto queimava em febre à beira da fogueira, dentro de
uma pequena gruta, sentiu uma mão macia tocar-lhe a testa. Abriu os olhos com
alguma dificuldade, limpou o suor que lhe escorria pelo rosto e levantando um
pouco as vistas, viu que a mãe o afagava carinhosamente. Tentou se levantar,
mas, ela segurou-o com firmeza, fazendo com que permanecesse quieto em seu
canto. Um calor ardente lhe queimava o corpo.
- A benção, mãe. – E sua voz lhe pareceu fraca, como a voz de quem já
não tinha forças nem mesmo para respirar.
- Deus te abençoa, meu filho.
A voz da mãe ainda lhe era macia como das outras vezes que a ouvira. Mas
agora lhe parecia ainda mais branda, com um cheiro de rosas e tomada pela
tranquilidade que apenas as vozes maternas possuem. Não estava delirando; tinha
a certeza de que aquela era mesmo a sua mãe. Não em carne e osso, mas, talvez o
seu espírito, que viera lhe amparar num momento de fraqueza e desilusão.
- Não tenho mais forças, mãe. Não consigo mais. Tenho que me entregar.
- Você ainda não cumpriu a sua missão, meu filho. Aguenta, que eu
estarei com você.
Juca compreendeu que sua mãe agora era uma parte de si. Fechou os olhos
e chorou copiosamente, deitado no seu colo. Depois adormecera, tranquilo e
protegido, como quando morava com a velha, à beira do riacho.
Amei!
ResponderExcluirAmei!
ResponderExcluirTexto fluente, urdido pela nossa riqueza folclorica.
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