Elismar Santos
Havia
se passado uma semana que Juca estava naquela casa. Enquanto Margarida saía de
madrugada para trabalhar na casa do coronel Gregório, ele consertava a cerca,
capinava o quintal e fazia pequenos reparos na velha casa. E, assim, ambos iam
convivendo em harmonia, sem a mulher o mandar embora nem ele querendo sair.
As
lembranças de Marciel, vez ou outra tomavam a sua alma. Nesses momentos, tinha
vontade de voltar; mas, reagia; juntava suas forças e ficava, sempre imaginando
o corpo de Margarida, aumentando a cada dia mais o seu desejo.
Quando
ela chegava do serviço e descia até a bica para se banhar, Juca escondia-se a
um canto e punha-se a observá-la. Como ela era bonita! E ao vê-la, mais tarde,
já com a sua camisola, pronta para dormir, tinha vergonha de olhá-la nos olhos,
com medo de que ela soubesse que ele sempre a espiava.
Todas
as noites, antes de dormir, ficavam um longo tempo a conversar. Falavam do frio
e da seca. Às vezes, ela falava sobre as estrelas e de como, quando criança,
ficava até tarde da noite a observá-las, pensando se será que existiam vidas em
outros planetas. Alguns dizem que existem, mas, outros juram de pés juntos que
somos só nós nesta vidinha besta.
Juca
nunca tinha pensado sobre isso. Sempre tinha olhado para o céu para se
orientar. Conhecia as Três-Marias, a Chave do Céu, a Estrela D’alva e as outras
para quem sempre olhava a noite, quando decidia se ia para um lado ou para
outro. Mas, nesse momento, pensou que também sua mãe fosse uma estrela. Que
certamente ela tinha ido para o céu e que aquelas estrelas também deviam ser
outras pessoas, que tinham sido boas em vida e, como prêmio, subiram para lá.
Os pais de Margarida deviam estar lá também, pois, pelo que ela sempre lhe
disse, eram pessoas tão boas quanto a sua mãe.
Naquela
noite, Juca não dissera nada. Apenas pensava em tudo aquilo, enquanto Margarida
conversava assentada num pequeno banco ao seu lado. Deitado na rede, ele
desejava que ela estivesse junto dele e, enquanto ela falava, punha-se a
observar o seu rosto, os seus cabelos, os seus peitinhos duros por debaixo da
camisola, os cabelinhos eriçados que teimavam em se mostrar por baixo da
camisola, que deixava as coxas de fora.
E
num átimo de coragem, ele se ergueu, ajeitou-se na rede e, segurando a mulher
pelo pescoço, beijou-lhe a boca demoradamente. Margarida não se opusera; deixou
que aquele homem lhe beijasse, enquanto sentia um calor estonteante tomar todo
o seu corpo.
Juca
levantou-se, pegou-a no colo e foram ambos para o quarto. A cama era macia e
através da fresta da janela eles viam a lua cheia, que parecia espiá-los. Ele
não se lembrava de nada, apenas sentia o seu corpo penetrar o de Margarida,
como se fossem apenas um. Sentia os beijos que ela lhe dava e abraçava-a com
toda a força, como se a quisesse partir ao meio, depois, ficava quietinho,
escutando a respiração ofegante da sua namorada. Sentia-se feliz, como se a
vida se resumisse apenas àquele momento. Depois, já quando era madrugada, abriu
os olhos e afirmou:
- Eu
te amo, Margarida.
- Eu
também te amo, Juca.
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