domingo, 1 de julho de 2018

JUCA PESSOA - CAPÍTULO 12



Elismar Santos

Havia se passado uma semana que Juca estava naquela casa. Enquanto Margarida saía de madrugada para trabalhar na casa do coronel Gregório, ele consertava a cerca, capinava o quintal e fazia pequenos reparos na velha casa. E, assim, ambos iam convivendo em harmonia, sem a mulher o mandar embora nem ele querendo sair.

As lembranças de Marciel, vez ou outra tomavam a sua alma. Nesses momentos, tinha vontade de voltar; mas, reagia; juntava suas forças e ficava, sempre imaginando o corpo de Margarida, aumentando a cada dia mais o seu desejo.

Quando ela chegava do serviço e descia até a bica para se banhar, Juca escondia-se a um canto e punha-se a observá-la. Como ela era bonita! E ao vê-la, mais tarde, já com a sua camisola, pronta para dormir, tinha vergonha de olhá-la nos olhos, com medo de que ela soubesse que ele sempre a espiava.

Todas as noites, antes de dormir, ficavam um longo tempo a conversar. Falavam do frio e da seca. Às vezes, ela falava sobre as estrelas e de como, quando criança, ficava até tarde da noite a observá-las, pensando se será que existiam vidas em outros planetas. Alguns dizem que existem, mas, outros juram de pés juntos que somos só nós nesta vidinha besta.

Juca nunca tinha pensado sobre isso. Sempre tinha olhado para o céu para se orientar. Conhecia as Três-Marias, a Chave do Céu, a Estrela D’alva e as outras para quem sempre olhava a noite, quando decidia se ia para um lado ou para outro. Mas, nesse momento, pensou que também sua mãe fosse uma estrela. Que certamente ela tinha ido para o céu e que aquelas estrelas também deviam ser outras pessoas, que tinham sido boas em vida e, como prêmio, subiram para lá. Os pais de Margarida deviam estar lá também, pois, pelo que ela sempre lhe disse, eram pessoas tão boas quanto a sua mãe.

Naquela noite, Juca não dissera nada. Apenas pensava em tudo aquilo, enquanto Margarida conversava assentada num pequeno banco ao seu lado. Deitado na rede, ele desejava que ela estivesse junto dele e, enquanto ela falava, punha-se a observar o seu rosto, os seus cabelos, os seus peitinhos duros por debaixo da camisola, os cabelinhos eriçados que teimavam em se mostrar por baixo da camisola, que deixava as coxas de fora.

E num átimo de coragem, ele se ergueu, ajeitou-se na rede e, segurando a mulher pelo pescoço, beijou-lhe a boca demoradamente. Margarida não se opusera; deixou que aquele homem lhe beijasse, enquanto sentia um calor estonteante tomar todo o seu corpo.

Juca levantou-se, pegou-a no colo e foram ambos para o quarto. A cama era macia e através da fresta da janela eles viam a lua cheia, que parecia espiá-los. Ele não se lembrava de nada, apenas sentia o seu corpo penetrar o de Margarida, como se fossem apenas um. Sentia os beijos que ela lhe dava e abraçava-a com toda a força, como se a quisesse partir ao meio, depois, ficava quietinho, escutando a respiração ofegante da sua namorada. Sentia-se feliz, como se a vida se resumisse apenas àquele momento. Depois, já quando era madrugada, abriu os olhos e afirmou:

- Eu te amo, Margarida.

- Eu também te amo, Juca.    

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