sexta-feira, 5 de outubro de 2018

POEMA DE AMIZADE, ALHEIO A TUDO E A TODOS, ÀS VEZES METRIFICADO OU NÃO; ÀS VEZES RIMADO OU NÃO; ÀS VEZES POESIA OU NÃO. QUEM SABE, NEM MESMO POEMA!


Elismar Santos


Aos amigos, um dia, quando a noite já chegava,
Enviei, levemente, um abraço,
Quase um pedido de socorro,
Tristemente camuflado num pedaço de canção.

Um, que era próximo e solícito,
Não entendera o pedido,
Ou, não creio eu, fez-se desentendido.

Perdoei-o pela velha amizade.

Outro, que era tonto e embriagado,
Ocupara-se no boteco com as garrafas,
Sem mais tempo para vir.

Perdoei-o pela sua insanidade.

Ainda teve outro velho amigo,
Bem prático e metódico,
Que não viera por estar atarefado.

Perdoei-o, com um pedido de perdão.

Já era noite quando alguém me ligou.
Não era qualquer amigo
Ou sequer um grande irmão.

Era apenas um poema, a doer-me o coração.

Depois de ouvi-lo
E, por um momento, pensar em publicá-lo,
Rasguei-o envergonhado.

E perdoei-me por tamanha desilusão.

XX

Foi de manhã, porém, quando os pássaros, meninos alados a cantar, teciam poemas de outrora, que o remorso me batera à porta da solidão. Foi de manhã que os sonhos, que não me vieram visitar quando a noite povoava a minha alma, cochicharam aos meus ouvidos e disseram que as amizades eram como flores. Foi de manhã, enquanto a lua escondia-se por detrás do monte mais verde e o sol queimava as tristezas, que os boêmios deixaram nas entranhas das putas velhas das zonas boemias dos recantos afastados do passado, que tudo me esclareceu, enquanto nada se valia por dizer.

XX

Unem-se as nuvens celestes
Enquanto os ventos revoltam
Feito entristecidos poetas
Rebelando-se arduamente
Em mórbida revolução
Sem qualquer porto seguro
E nenhuma convicção.

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