Talvez o mais decente
para um escritor seja, realmente, o anonimato e a distância; pois, assim, não
se misturam o autor e a obra, o autor e o personagem, o autor e os autores. E
isso sempre é conveniente saber: poder parecer piegas, maçante, manjado mesmo;
mas, de fato, cada leitor é deveras um autor. Por isso, quando escrevo e
publico, deixo logo de ser o pai da criança e, por conseguinte, concordo com
todas as interpretações possíveis e plausíveis.
Da mesma forma,
enquanto leio João Ubaldo Ribeiro, Vinícius de Moraes ou Christian Carvalho
Cruz, interpreto-os de acordo com minhas mais convictas emoções, de acordo com
as minhas mais prováveis compreensões, confundindo, por vezes, Autor – Personagem
– Obra. Por isso, não culpo os leitores que me imputam o sumiço do Arnaldo, que
me veem como um poeta inveterado, como uma cópia imperfeita de Guimarães Rosa e
Jorge Amado. A interpretação é a conveniência do leitor-autor e, portanto, a
mais pura verdade, ainda que sejam concretas inverdades.
Faço, então, a mea-culpa:
também eu crio meus leitores; também eu sou um leitor inveterado daqueles que
me leem os textos. E talvez por isso eu os conheça tão bem, embora sempre à
minha maneira, conversando, silenciosamente, por vezes, com este ou aquele, pedindo, ainda que
intuitivamente uma opinião, fazendo parcerias, escrevendo a mais mãos aquilo
que uma não faria com tanta dignidade.
Talvez o mais decente
seja, realmente, o anonimato e a distância, pois, desta forma, não saberá cada leitor-autor que durante um espaço de tempo, em frente ao computador, todos eles se
escrevem nas linhas de uma Crônica ou nos versos de um poema, para em seguida
serem jogados, sem qualquer tipo de piedade, nas entranhas das redes sociais,
para serem desfeitos e recriados por tantos outros autores, sendo compreendidos
das mais diferentes maneiras, de todas as formas, em todas as suas crudelíssimas veracidades.
E talvez isto seja o
mais justo, uma vez que nestes caminhos tão turbulentos e tortuosos, de que
adiantaria a lida, se todos não caminhássemos juntos, se não falássemos a mesma
língua, com nossos tantos sotaques e pensamentos, se não escrevêssemos todas as
nossas histórias e estórias? Não há dúvida, a melhor escrita é o distante anonimato!
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