segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O NOSSO MELHOR AMIGO


Cláudio, nos tempos de escola, era o melhor amigo de todos, e talvez fosse este o seu maior problema: ninguém é o melhor amigo de tanta gente. Éramos uns trinta indivíduos, entre meninos e meninas, exigindo a amizade exclusiva de Cláudio, que nunca se decidia sobre nada. E, hoje, tenho a plena certeza de que isto o aporrinhava.

Todo mundo sempre queria sentar perto do Cláudio, quando ainda se dispunham os alunos em duplas, para que um ajudasse o mais fraco, afinal, como dizia uma antiga professora: “Duas cabeças erram melhor que uma.”. Nem era tamanha vantagem sentar com o Cláudio, afinal, como eu já disse, ele nunca se decidia sobre nada e, por isso, nós tínhamos que decidir por ele.

Para que se resolvesse a questão, o professor coordenador da turma sempre o colocava sozinho, na primeira carteira, junto do mestre. A verdade, e isto ninguém me tira da cabeça, é que também eles queriam ser os melhores amigos do nosso amigo. E lá ficava o Cláudio, na primeira carteira, solitário, sob os olhares invejosos dos amigos, que também queriam estar ali, junto dele.

Já no terceiro ano, Cláudio não sabia o que fazer: se prestava vestibular ou se tentava algum concurso. Também nós não sabíamos. Todos esperávamos pela conclusão dele para, então, seguirmos o mesmo caminho. Como ele nunca resolvesse, decidimos todos levá-lo para o boteco. Era, talvez, uma sexta-feira. Fomos parar num barzinho detrás do morro, debaixo dos braços do Cristo Redentor.  

Durante toda a noite bebemos. Daí uma semana terminaríamos os estudos secundaristas e ainda não tínhamos um rumo a seguir. Algum colega dissera que o melhor seria fazer medicina, mas que só iria se o Cláudio também fosse. Outro insistia que o mais viável era tentar um concurso, afinal, era a garantia de um serviço efetivo e de boa paga, mas também só faria as provas se o Cláudio também fizesse. Todos os outros fizemos nossas considerações, sempre com a condição de que o nosso melhor amigo também seguisse o mesmo caminho.

Ele pouco falara durante todo o tempo. Sempre concordava com as falas de todos e dizia que talvez fizesse um ou outro curso, talvez tentasse esse ou aquele concurso, mas achava que precisava pensar um pouco mais, pesar os prós e os contras de cada proposição, afinal, nada devia ser resolvido assim: de supetão. E todos nós, ainda que desapontados, como sempre, concordamos.

O dia já despontava quando fomos embora. Pela primeira vez, Cláudio não quis a nossa companhia. Disse que precisava andar um pouco sozinho, que não nos magoássemos, mas, necessitava de um pouco de solidão para pensar sobre tudo aquilo que conversamos durante a noite. Relutamos, mas, frente à insistência do amigo, deixamos que se fosse sem a nossa companhia.

Ainda hoje não tenho mais notícias do meu melhor amigo, assim como todos os outros colegas, com os quais ainda tenho quase que diária convivência, ainda que por telefone ou pelas redes sociais, que nunca mais ouviram falar do Cláudio. Apesar disso, onde estiver, ele sabe que ainda é o nosso melhor amigo.  

Um comentário:

  1. Me fez lembrar o amigo Hideo,que vivia pedindo aos amigos para ensina-lo a jogar bola.Mas que japonesinho ruim de bola.Infelizmente,não tivemos mais notícias dele.

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