Cláudio, nos tempos de
escola, era o melhor amigo de todos, e talvez fosse este o seu maior problema:
ninguém é o melhor amigo de tanta gente. Éramos uns trinta indivíduos, entre
meninos e meninas, exigindo a amizade exclusiva de Cláudio, que nunca se
decidia sobre nada. E, hoje, tenho a plena certeza de que isto o aporrinhava.
Todo mundo sempre
queria sentar perto do Cláudio, quando ainda se dispunham os alunos em duplas,
para que um ajudasse o mais fraco, afinal, como dizia uma antiga professora: “Duas
cabeças erram melhor que uma.”. Nem era tamanha vantagem sentar com o Cláudio,
afinal, como eu já disse, ele nunca se decidia sobre nada e, por isso, nós tínhamos
que decidir por ele.
Para que se resolvesse
a questão, o professor coordenador da turma sempre o colocava sozinho, na
primeira carteira, junto do mestre. A verdade, e isto ninguém me tira da
cabeça, é que também eles queriam ser os melhores amigos do nosso amigo. E lá
ficava o Cláudio, na primeira carteira, solitário, sob os olhares invejosos dos
amigos, que também queriam estar ali, junto dele.
Já no terceiro ano,
Cláudio não sabia o que fazer: se prestava vestibular ou se tentava algum
concurso. Também nós não sabíamos. Todos esperávamos pela conclusão dele para,
então, seguirmos o mesmo caminho. Como ele nunca resolvesse, decidimos todos
levá-lo para o boteco. Era, talvez, uma sexta-feira. Fomos parar num barzinho detrás
do morro, debaixo dos braços do Cristo Redentor.
Durante toda a noite
bebemos. Daí uma semana terminaríamos os estudos secundaristas e ainda não tínhamos
um rumo a seguir. Algum colega dissera que o melhor seria fazer medicina, mas
que só iria se o Cláudio também fosse. Outro insistia que o mais viável era
tentar um concurso, afinal, era a garantia de um serviço efetivo e de boa paga,
mas também só faria as provas se o Cláudio também fizesse. Todos os outros
fizemos nossas considerações, sempre com a condição de que o nosso melhor amigo
também seguisse o mesmo caminho.
Ele pouco falara
durante todo o tempo. Sempre concordava com as falas de todos e dizia que
talvez fizesse um ou outro curso, talvez tentasse esse ou aquele concurso, mas
achava que precisava pensar um pouco mais, pesar os prós e os contras de cada
proposição, afinal, nada devia ser resolvido assim: de supetão. E todos nós,
ainda que desapontados, como sempre, concordamos.
O dia já despontava
quando fomos embora. Pela primeira vez, Cláudio não quis a nossa companhia.
Disse que precisava andar um pouco sozinho, que não nos magoássemos, mas,
necessitava de um pouco de solidão para pensar sobre tudo aquilo que
conversamos durante a noite. Relutamos, mas, frente à insistência do amigo,
deixamos que se fosse sem a nossa companhia.
Ainda hoje não tenho
mais notícias do meu melhor amigo, assim como todos os outros colegas, com os
quais ainda tenho quase que diária convivência, ainda que por telefone ou pelas
redes sociais, que nunca mais ouviram falar do Cláudio. Apesar disso, onde
estiver, ele sabe que ainda é o nosso melhor amigo.
Me fez lembrar o amigo Hideo,que vivia pedindo aos amigos para ensina-lo a jogar bola.Mas que japonesinho ruim de bola.Infelizmente,não tivemos mais notícias dele.
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