Seguindo a genética da família,
se é que isto conta neste caso, nunca prestei para o futebol, embora sempre
gostasse de correr atrás da redonda. Assim, de domingo a domingo, detrás do
parque, no campinho do Buriti, Renovação, Diamante, ou no campinho de Menom, lá
estava eu, correndo de um lado para outro, chutando a bola igual doido.
A prova de que não prestava para o futebol é o
fato de eu ter passado por todas as posições nas quatro linhas. Comecei pela
defesa, atuando "gloriosamente" pela zaga, no campinho detrás do parque e,
depois, no Real Madri corjesuense. Não tinha preferência por nenhum quadrante próximo
à área e, portanto, jogava pela direita, pela esquerda ou no centro, falhando
em qualquer um dos seus quadrados.
Depois, aproveitando da
minha velocidade, embora o fôlego não ajudasse,literalmente, caí para os lados do campo,
jogando, ora pela direita, ora pela esquerda; correndo quase velozmente por ambos
os lados, não cruzando nem defendendo, pois, quase não ia ao ataque e, incrivelmente,
quando ia, igual louco, não tinha fôlego para retornar à defesa.
Por uma ocasião, no campo do Cecorje, grama alta, onde todos sempre queríamos jogar, pois era o
estádio da cidade e, consequentemente, apenas jogos de maior monta eram ali
realizados, joguei pelo meio de campo. Como não era volante nem meia, não
atacava nem armava; apenas ficava, feito galinha tonta, correndo de um
lado para outro. Ato contínuo, fui rapidamente substituído pelo treinador, terminado de assistir ao jogo debaixo de uma sombra, encostado no muro.
No ataque, joguei também uma
vez, num torneio debaixo de chuva, numa manhã de domingo, no pelador do
Renovação. Na única chance clara de gol, numa maldita bola que me sobrou, ficamos o goleiro e eu frente a frente. O gol enorme me sorrindo e Araponga (este era
o nome do goleiro) pulando que nem canguru, crescendo em minha direção.
Desesperado, mandei a bola pelo alto, enquanto deveria apenas tê-la tocado por
baixo, no canto ou entre as pernas do arqueiro. Ela foi lenta, direto nas mãos
do goleiro, que saiu rindo da minha cara.
Como consequência, atendendo aos pedidos da torcida e dos outros jogadores do meu time, fui substituído, e ainda saí vociferando, maldizendo a
substituição.
Por último, num átimo de
loucura, cismei de ser técnico. Primeiro, num time de garotos da escola, num
campeonato interclasses: chegamos à final, mas, devido às fortes chuvas e as
goteiras na quadra do CAIC, não houve o jogo final. Depois, num jogo do Real,
quando tentei, sem sucesso, substituir um dos nossos atletas que teimava em não sair. Para não ficar queimado, tirei um dos menos espirituosos, que, para o meu azar, estava
jogando bem àquela tarde e, com a sua saída, logo numa falha do seu suplente,
levamos um gol.
Depois, aproveitando de um telefonema da
rádio, onde solicitavam a minha presença, para substituir um locutor, que por
algum motivo, precisava sair do ar, retirei-me da beira do campo, aposentando-me
do cargo e dos encargos futebolísticos.
Hoje, uns tantos quilos
acima e sem o viço de outros tempos, ajeito-me tranquilamente no sofá e munido
do controle remoto e de algumas latas de cerveja, com um belo prato de tira-gosto
sobre a mesinha, aprazo-me em reclamar dos jogadores do Galo, vociferando
contra o Levir que, erroneamente, bota o Elias em Campo, ainda por cima, como
segundo volante, num famigerado 4, 2, 3, 1, com Luan se matando em todos os
quadrantes do campo e o Cazares passeando, inoperante, em campo.
E, novamente, confirmando a
minha inaptidão para o futebol, dentro ou fora das quatro linhas, Elias, numa
bonita jogada pela esquerda, tabelando com Cazares e, em seguida, caindo para o
meio de campo, recebe uma bola açucarada, tocada por Fábio Santos, e marca um
belo gol, para a minha felicidade.
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