Na televisão,
preferencialmente, tenho assistido aos programas esportivos, sobretudo os que
falam dos times mineiros; primordialmente, aqueles que falem sobre o Galo. Caso
contrário, fico ligado no rádio, primando pelas ondas do AM, que tocam, quase
sempre, esporte e música velha. Mas, vez ou outra, dou um pulo nos canais
jornalísticos, que é para descortinar um pouco das minhas utopias, que é para pisar
um pouco sobre a triste realidade em que vivemos, e, como contraponto, por
vezes, descanso a mente nos filmes de Faroeste.
Durante
as manhãs, após as caminhadas, quando caço pequi e esfrio a cabeça das dores na
coluna, leio, deitado na velha rede, duas ou três Crônicas de Vinícius de
Moraes, que é pra não esquecer que a poesia ainda nos é indispensável, e que
devemos respirá-la, ao menos uma vez ao dia, para que não nos embebamos
demasiadamente das mazelas que nos rodeiam.
Hoje,
contrariando a minha rotina, não cochilei após o almoço, assim como não me
ative aos programas esportivos. Munido de uma raquete, peguei-me a torrar as
muriçocas que se proliferaram depois das chuvas, enquanto assistia ao noticiário,
tentando separar os barulhos das muriçocas, as conversas na calçada e as
informações debatidas na TV.
Numa
bancada, quase formando um U, o âncora falava sobre a retirada da Força
Nacional de Segurança do Rio de Janeiro, que haverá de acontecer ainda no
findar deste ano, passando a palavra aos debatedores, afirmando, porém, antes,
que de nada tem resolvido essa intervenção. Ainda não tenho conversado com as
pessoas de lá sobre a situação, mas, lembrei-me imediatamente do Poetinha e sobre
como haveriam de ser as suas Crônicas neste tempo de incertezas.
Após
um breve instante de reflexão, eis que a minha alma novamente se apaziguou. Certamente que o Vinícius não avexaria, embora
uma dor metaforicamente o roesse por dentro. Placidamente, tomaria mais um gole
de uísque e reafirmaria todas as esperanças que apenas os poetas possuem, ainda
que muitas vezes disfarçadas em melancolia e incongruências; depois,
sentaria-se defronte ao mar e, observando as mocinhas que porventura passassem
pela praia naquele instante, comporia mais uma música, escreveria mais um poema
e, por fim, amaria a vida como se não houvesse o amanhã, pois, convenhamos,
tudo sempre há de melhorar.
Assustei-me
com o clarão, enquanto um pipocar estranho me feria os ouvidos. Não eram tiros de fuzis. Também eu não estava
na praia, tomando uísque com o Poetinha. Eram apenas as muriçocas que vinham,
feito camicazes, bater direto na tela da raquete. Os jornalistas já não
debatiam mais sobre política. Falavam agora sobre músicas, que em nada
lembravam Vinícius, crônicas ou poesias.
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