“Ladrão fica entalado em porta depois de
tentar roubar casa em BH”.
Jornal O tempo
“tudo na sua vida é um reflexo de alguma
escolha que você fez. Se você quer resultados diferentes, faça uma escolha
diferente”.
@Referenciou
Entalado na porta da cozinha, ainda
tonto de tanta cerveja e com vontade de ir ao banheiro, Furtado já entrava em
desespero. O dia já estava amanhecendo e logo os donos chegariam. Deviam estar
em alguma festa; se não, se estivessem para o sítio (que certamente deviam
ter), só voltariam no final do dia. Então, na teria mais jeito, morreria ali
mesmo, vergonhosamente entalado em uma porta, depois de um roubo frustrado,
logo na sua primeira noite de trabalho.
Em trinta e cinco anos, José Furtado
da Silva nunca fora preso, pois nunca havia praticado qualquer delito. Não era
nascido em berço de ouro, mas também nunca havia passado fome. Morador da região
central de BH, gostava de hambúrgueres, pizza e macarrão. Bebia cerveja apenas
aos finais de semana e, durante as refeições, preferia Fanta, pois, conforme
sempre lia no Facebook, Coca é um veneno!
Desde os quinze já era gordinho e,
por isso, sempre era zoado pelos colegas. Um dia, num átimo de fúria, saiu na
porrada com o filho do diretor, que era esquálido e sentava-se do seu lado
direito. O menino foi para o hospital, enquanto Furtado, sem qualquer defesa,
foi expulso do colégio particular. O pai, advogado da escola, preferiu colocar
panos quentes no caso, enquanto a mãe o colocou de castigo eterno, além de
proibir as guloseimas por uma semana.
Aos vinte, Furtado, sem que ninguém o
impedisse, saiu de casa. Foi morar num dos apartamentos que o pai mantinha na
zona norte da cidade; o único que ainda não estava alugado. Não quis aceitar o
emprego que o pai tinha oferecido. Não haveria de ser apenas um Office Boy. Viveria
um tempo da mesada, dois mil reais, que o pai continuaria depositando em sua
conta e depois, quando encontrasse o emprego que sonhava, seguiria o seu
caminho.
Aos trinta, sem mesada e
desempregado, Furtado já não conversava com os pais. Morava no apartamento
quase sem móveis, pois vendia tudo o eu tinha para comer e compra drogas.
Durante o dia, perambulava pelas ruas belorizontinas, aproveitando-se do nome
do pai para comer de graça em casa de antigos amigos da família e frequentava religiosamente
a rua São Paulo, descansando da tristeza no parque municipal. De noite, ia às
bocas da região central, onde fazia amigos, escrevia poemas, tecia ilusões e
deitava-se com as menininhas que há muito o debochavam na escola.
Aos trinta e cinco anos de idade, uma enormidade de homem, ainda tonto e
com vontade de ir ao banheiro, Furtado relembrava toda a sua vida, como se
fosse um filme de terror. A bexiga já estava por estourar, teria mesmo que
urinar ali, nas calças, pois nem mesmo os braços ele podia mover. O estômago roncando,
a barriga doendo. O coração acelerado, doendo. Talvez tivesse sofrendo um
infarto, ainda mais que o braço já começava a formigar. Ao longe, alguém abria
o portão. O melhor era não gritar. Fechou os olhos e pensou nos pais. O pai
haveria de defendê-lo; a mãe haveria de perdoá-lo. Só queria um hambúrguer, e
já morreria feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário