Pedro
não sabe que o pequi possui o nome científico Caryocar Brasiliense, assim como
não sabe que aquele nome, em Tupi, significa Pele Espinhenta; mas ele sabe que
de Novembro a Janeiro, nos pés do Riacho da Areia, pode encontrar, quase
diariamente, bem umas dúzias do fruto e que se não sair de manhãzinha para
pegá-lo, vai ter que comprar, por dez reais, na venda de Tuniquim.
Tuniquim
não pega pequi. Com aquele gordurão todo, fica todo o dia detrás do balcão
comendo doces e tomando Coca-cola. Nesta época, põe um prato cheio de farinha
sobre a bancada e, enquanto assiste à velha televisão na parede, fica roendo um
monte do fruto, ficando com a barba toda amarelada e os dentes sujos. Nem os
caroços ele desperdiça, coloca tudo num cantinho, que é para o menino tirar as
castanhas para comer, sempre tomando cuidado com os espinhos na língua.
Quando
era mais novo, Pedro andou vendendo pequi para Tuniquim; mas, depois de
aposentado deixou de besteira. Nunca compensou levantar de madrugada e rodar
mais de uma légua em cima de uma calanga pra vender por mixaria. Quem ganhava
era só Tuniquim, que ainda reclamava dos pequis. Também já vendeu para os
homens que chegavam nos caminhões e pagavam um pouco mais. Mas eram outros
tempos. Agora só pega pra roer com farinha ou colocar no arroz com carne de
sol. Tuniquim compra dos meninos de Luciolindo, que derrubam quase tudo de um
pé perto do cemitério.
Pedro
faz as contas: em Agosto, Setembro ou outubro um monte de meninos nasce na
cidade. É sempre assim, as meninas saem de um lado para caçar pequi e os
rapazes saem de outro, dão a volta no Anel e se encontram no pequizeiro de
sempre. Os meninos de Luciolindo, gêmeos idênticos, dizem as más línguas, foram
feitos numa busca de pequi, lá pelos lados do São Caetano, assim como a filha
de Geraldin, que nasceu à mesma época dos moleques.
Os
filhos de Pedro são de outra época. Um foi feito no Carnaval, enquanto o outro
assim que o resguardo acabou. Os dois moram com a mãe e sempre chegam para as
férias de dezembro. O mais velho namora com a filha de Geraldin. Tomara que os
dois não vão caçar pequi. Não agora. É melhor esperar a crise acabar. O ano que
vem tem mais safra de pequi.
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