domingo, 17 de novembro de 2019

O CHORO DE CANDINHA

Já era noite quando Candinha batera à minha porta. Vestia-se de uma camisola esverdeada e tinha os olhos inchados. Levantei-me rapidamente ao ouvir seus gritos e batidas na porta, pois a negra Maria há muito dormia no seu quartinho, próximo à cozinha, como se fosse uma pedra jogada no fundo de um rio.

A esposa do Arnaldo falava desesperada sobre a demora do marido, que ele havia saído ainda de madrugada prometendo voltar antes que a noite chegasse. E ela estava maravilhosa dentro daquela roupa de dormir. Embora eu tentasse, não conseguia deixar de olhar para os seus peitinhos duros, quase perfurando a camisola, os cabelos negros descendo pelo pescoço liso, indo até próximo aos seios. Segurei-me para não agarrá-la; puxar para dentro de casa; levá-la ao meu quarto e fazê-la esquecer aquele desgraçado.

Ordenei que a mulher se acalmasse, puxei-a para dentro de casa e gritei por Maria. Enquanto a negra despertava e até que viesse à sala, tentei acalmar Candinha. Sentei-me ao seu lado no sofá e pedi que tivesse paciência; o Arnaldo ainda voltaria, talvez tivesse tido algum contratempo e resolvera dormir na fazenda do Tião. Pus a mão direita sobre a sua perna. Como eram quentes as suas pernas, os cabelinhos eriçados; senti que ela tremia; meu coração palpitava, eu tinha vontade de agarrá-la de uma vez.

Maria chegou trazendo um copo de água com açúcar, pois tinha ouvido as lamúrias de Candinha. Ordenei que fizesse um chá para a pobre esposa do Arnaldo e, enquanto ela corria para a cozinha, puxei a cabeça da viúva para junto do meu ombro. Candinha não relutou; deixou-se cair e chorando disse que não saberia o que fazer se lhe faltasse o marido.

Eu sabia da morte do meu amigo. E, embora sentisse o coração apertado, enchia-me de alegria ao imaginar a sua esposa nos meus braços, na minha cama, ao meu lado até o fim dos nossos dias. Controlei a minha euforia e, enquanto alisava os seus cabelos, sentindo os seus seios tocarem o meu peito, dizia palavras de esperança e tentava acalmá-la dizendo que esperasse até o amanhecer. Se o Arnaldo não voltasse, eu mesmo o haveria de procurar.

Os filhos de Tião deviam ter feito um bom serviço. Era para o meu amigo ter voltado antes que escuressece e se não o fizera é porque já não havia mais o Arnaldo. Nada mais poderia atrapalhar, Candinha seria a minha esposa, o grande amor da minha vida. Se ela quisesse, iríamos embora para a capital, construir uma nova vida, numa casa cheia de filhos, sem as lembranças do falecido.

Insisti para que dormisse conosco. Talvez fosse perigoso ficar sozinha em sua casa, sem a presença do marido. Ela não queria, mas, ante a minha insistência, enquanto tomava o chá de camomila preparado por Maria, aceitou passar a noite. Mandei a negra preparar o quarto de hóspedes, que fica bem ao lado do meu; Candinha foi junto e, enquanto caminhava, lentamente, ainda soluçando, eu reparei o quanto tinha as ancas largas, certamente seria uma boa parideira, um desperdício para o meu falecido amigo.

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