Os filhos de Tião, Joaquim e Luciovânio, assim que saíram da fazenda, puseram-se a planejar a morte de Arnaldo. O aviso do Doutor era a senha para o combinado, o bicho já estava no mato, agora era a hora de fazer valer o faro de caçadores.
O velho tinha segurado o pobre diabo o quanto pôde, para que os filhos se arranchassem nos matos em tocaia. Deveriam andar um bom pedaço, pois tudo deveria acontecer longe daquelas bandas, para que não suspeitassem das gentes da fazenda. Pensaram logo no Gaforão, lugar ermo, cheio de mato fechado e onças. Ninguém haveria de achar o corpo do homem.
A chuva chegou de repente, mas os dois caçadores continuavam nos seus postos: Joaquim, escondido detrás de um pequizeiro, do lado esquerdo, bem junto da estrada. Do outro lado, Luciovânio deitara-se junto de uma moita de macambira, com os espinhos cheirando o seu rosto. Ficaram por horas esperando, mas valia a pena, o Doutor tinha dado uma boa paga, dissera que era herança do velho Lourenço, que dava com pena, mas que não tinha mais jeito, precisava do serviço.
Luciovânio já começava a cochilar quando Joaquim deu o primeiro tiro. Arnaldo vinha tentando segurar o cavalo, que debatia-se a cada corisco que corria no céu. O tiro do irmão tinha sido certeiro, indo direto no peito do viajante, que cambaleou sobre o animal. Por via das dúvidas, era melhor dar outro tiro. Luciovânio mirou direitinho no lado esquerdo, queria acertar o coração, mas como o desgraçado não parasse quieto, acertou um pouco abaixo, fazendo-o cair.
O cavalo pôs-se em disparada rumo ao Sarará, deixando o cavaleiro no chão. Os irmãos saíram dos seus postos e foram conferir o serviço. Luciovânio queria dar mais um tiro, o de misericórdia, que era para garantir o serviço, mas foi logo dissuadido pelo mais velho:
- Não é preciso gastar mais bala, mano. O desgraçado já está morto. Vamos tirar ele daqui, antes de escurecer as onças já dão um fim no banquete.
Arrastaram o corpo para dentro do matagal e depositaram-no debaixo de uma mangabeira. Joaquim ainda deixou uma flor sobre o peito do miserável, que era para tornar a ceia mais bonita para os gatinhos. Montaram nos cavalos e saíram sem olhar para trás. A chuva caía forte e os raios pareciam nunca acabar. A noite ainda os pegaria na estrada, mas tudo tinha valido a pena.
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