O cavalo seguia com dificuldade, enquanto Alfredo tentava se manter sobre a sela. A água descia forte lá de cima, passava sobre a calçada da casa amarela e vinha bater violentamente contra o meio-fio da rotatória. Depois, ia rua abaixo até o pontião, onde se juntava à água da lagoa.
O cavaleiro tentava não olhar para o chão, fixando os olhos ora na sela ora no horizonte. O estômago vazio doía; as mãos tremiam e a boca estava seca. Deveria ter trazido uma garrafinha de pinga, mas, desde que Caetana o fizera dormir no paiol, nunca mais teve coragem de embebedar na sua frente.
Talvez devesse mesmo ter ficado no boteco, esperando que a chuva passasse. Mas, daí, teria que voltar à noite, com o perigo das onças no Guará, ainda mais bêbado, tendo que aguentar depois as aporrinhações da esposa. O melhor mesmo era ir embora debaixo da chuva, com medo dos relâmpagos e dos trovões.
Parou debaixo da mangueira e, olhando a lagoa, tirou o fumo do embornal e pôs sobre a palma da mão esquerda; pegou uma palha e começou a alisar com o canivete; cortou-a como que cheio de arte e pôs-se a picar o fumo. A mãe sempre dissera para não ficar debaixo de árvore em dias de chuva, ainda mais com raios. Tinha que fazer um pito, antes de seguir e, ali, apenas alguns poucos pingos caíam sobre o chapéu de palha.
As lembranças vinham à sua mente, enquanto fumava o roleiro. Caetana era uma menina bonita, tímida e cheia crenças, mas a vida a tinha transformado naquela cobra sem coração. Pobre dos meninos, ainda bem que já estavam todos crescidos. Logo as meninas casariam e os meninos sairiam para o mundo. Daí também ele sumiria, e Caetana ia ver o quanto ele fazia falta na vidinha dela.
Jogou a bituca no chão. Pisou forte para apagar a brasa que restava; montou no cavalo e seguiu, com a boca seca e cabeça doendo. Um raio cortou o céu e depois veio o trovão. Já vai, Caetana! Já vai!
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