A vontade era de mandar o coronel catar coquinho. Onde já se viu, um voto em troca de um gabiru! Só não o fez por causa da esposa; se não tivesse se controlado, a pobrezinha ia perder o seu emprego.
Luis sentou-se no degrau da porta e ficou olhando para o horizonte. Se tivesse pensado melhor, tinha ido embora pra São Paulo, junto com os irmãos. Não é que eles estivessem ricos, mas estavam todos remediados. Vez ou outra mandavam cartas contando as novidades e pedindo para mandarem os meninos, assim que eles se dessem por gente e aguentassem trabalhar.
O mais velho não tardaria partir. Pegaria a jardineira e ia ter com os tios. A esposa já estava ciente disso, que se acostumasse logo com a ideia de ficar longe do filho. Sofrer nos longes da cidade grande era melhor do que ficar padecendo nas garras do coronel.
Agora teria que votar no candidato do velho. O santinho do desgraçado estava guardado na gaveta, junto do martelinho de quebrar cristal e da caixinha com o baralho. As eleições não demoravam e era preciso só colocar o papel dentro da urna. O homem tinha dito que o santinho era só pra saber em quem estaria votando; a cédula, Borjão lhe entregaria na boca da urna, sem que ninguém visse.
Podia até ser que ninguém visse, mas todo mundo sabia. Era sempre a mesma coisa, todo mundo reclamava, mas acabava votando no candidato do coronel. Quem não era seu empregado, ganhava um bezerro; os outros eram obrigados pelo risco do serviço ou , então, pelas indicações feitas ao paço municipal.
Luís respirava fundo e imaginava o futuro, quando tudo seria diferente. Com certeza, os netos seriam homens livres, estudados e sem qualquer amarra, e, mesmo na roça, todo mundo poderia escolher em quem votar, sem a obrigação do emprego, da indicação, da permuta em bicho, comida ou dinheiro. Por enquanto, só lhe restava engolir a raiva e sonhar, enquanto, no radinho da cozinha, Zé Bétio tocava uma bonita canção.
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