quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

DINA

Hoje estive observando a mulher do Tonico. É já uma senhora, talvez com seus quarenta e poucos anos, maltratada pela lida na roça, com o rosto sofrido, pele queimada, mas ainda bonita de corpo. Talvez tenha sido uma bela moça e, tivesse nascido e se criado na capital, encheria os olhos dos moços que passeavam pela Afonso Pena nos fins de tarde, procurando pelos brotinhos com seus rostinhos meigos e corpos definidos.

O Tonico não fizera uma má escolha. Dina - Leodina - é uma mulher recatada, que vive apenas para o marido e os filhos . Dizem que Tonico casou com ela quando ambos já contavam mais de trinta e, por isso, os filhos saíram mirrados, fraquinhos e pouco inteligentes.

Sentado na varanda, vejo Dina passando de um lado para outro. Mal cumprimenta com um balançar de cabeça; tem os olhos sempre baixos e o andar preguiçoso. Vai até a horta e pega sempre as mesmas coisas: folhinhas verdes, abóbora, maxixe e pimentão; desce até a cacimba e pega água para o almoço e fica o resto do dia enfurnada, cuidando dos afazeres domésticos.

Ultimamente, tem puxado assuntos com Candinha. Primeiro foi a minha esposa quem a tinha procurado para consertar umas roupas velhas, que estavam precisando de pequenos reparos e, por fim, as duas começaram a se aproximar. Isto não me preocupa, e já penso mesmo em chamar a mulher para trabalhar dentro de casa em companhia de Candinha.

Tonico não se oporá, será mais um ganho para a família. Com o tempo, eles poderão comprar o sítio que tanto querem ou, quem sabe, pode ser que eu deixe-os ficar num cantinho do Sarará, daí o dinheiro servirá para o futuro dos moleques. Pode ser que algum deles se torne alguém na vida.


Enquanto beberico a minha pinga com remédio, penso na família de Tonico; talvez, um dia, Candinha e eu também formemos uma família grande, com um monte de crianças correndo pela casa. Talvez.

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