quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

INFÂNCIA

O povoado se descortinava à frente. O cavalo ia preguiçoso, balançando o rabo lentamente, enquanto o menino quase cochilava abraçado ao pai. As pedrinhas soltas eram jogadas para trás e, ao bater de encontro às outras, soltavam faíscas, em pleno sol matutino.

O mato sujo de poeira era a única paisagem que o menino avistava. Fazia tempo que não chovia e o trânsito dos Jipes, do caminhão do leite e da jardineira que ia do Pitão para Coração fazia com que os pequenos pés de paus ficassem com a cor amarronzada. E nas estradinhas feitas pelas joaninhas, besouros e lagartas, o menino via desenhos de toda espécie em cada folha.

O pai estancava o cavalo junto ao mataburros; abria o colchete e passava. Enquanto, depois de passar o arame no mourão, o velho preparava a palha para o cigarro, o menino olhava o povoado, que já aparecia nítido: umas poucas casinhas velhas, com suas pequenas janelas de madeira e portas para a rua. Ao longe era possível ver a torre da igreja por entre as mangueiras e os coqueiros.

Um homem passava rápido e gritava "Opa!"; Cachorros latiam correndo nas ruas empoeiradas; mulheres estendiam roupas nas cercas de arame. Na Gameleira, o pai amarrava o cavalo num poste de madeira e seguia para a venda. Primeiro comprariam as coisas de comer, o fumo e a pinga; depois, já sem grandes obrigações, viriam a carne, sabão e as miudezas que a mulher sempre pedia.

O menino sentava-se no banco de madeira e punha-se a olhar os movimentos. Já não cochilava; apenas esperava paciente pela hora que iriam à padaria. Era sempre assim: depois das compras, o pai tomava um trago; pegavam o cavalo e iam comprar uma bisnaga de pão. Era um pão duro e sem gosto, que o pai fazia questão de levar para comer molhado no café. Nunca se demoravam muito e, ao sair, o pai sempre lhe dava um pirulito, passava a mão na sua cabeça e sorria. E ele sentia que, de fato, era um menino feliz .

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