Dina não veio trabalhar hoje. Ainda bem cedo, quando eu mal tinha acordado, Tonico veio me avisar, todo cheio de rodeios, que a sua esposa não poderia vir, pois estava acamada. Disse que ela tinha acordado com dores de cabeça, sem conseguir ao menos se levantar da cama.
Era possível notar a preocupação latente nos olhos do sujeito. Com o chapéu entre as mãos, olhava com cara de cachorro pidão, quase pedindo perdão pela doença da esposa. Disse que tinha madrugado, tirado o leite das vacas e preparado os queijos, e que o menino não iria à aula, para cuidar das coisas em casa.
Assenti com a cabeça, enquanto tomava um gole de pinga preocupado com a esposa do Tonico. Candinha haveria de ficar preocupada e, certamente, pediria que eu a deixasse ir cuidar da mulher. E nisto, eu preferiria trazê-la para dentro da casa. Seria menos perigosos, ainda mais sem a presença dos cabras, que, depois de receber uma boa paga pelos serviços prestados, partiram para o Triângulo. Disseram que iam colher café pelos lados de Patrocínio.
Ofereci uma dose de pinga ao homem, alegando que era para relaxar um pouco. Negou a bebida de um modo acanhado e, com as mãos para trás e a cabeça baixa, perguntou-me se poderia ir até a farmácia do seu Zequinha; talvez ele tivesse algum remédio para as dores da esposa.
Diante das preocupações do caseiro, permiti que fosse até o Pitinha e disse ainda que a mulher viesse quando sarasse, que não se apressasse e, fosse caso de maior precisão, eu fazia questão de que ela ficasse aqui em casa, aos cuidados de Maria e Candinha.
Tonico agradeceu com os olhos cheios d'água; apertou fortemente a minha mão e deu de beijá-la. Puxei a mão resoluto e disse-lhe que não era preciso nada daquilo; que fosse cuidar de Dina e se precisasse de algo não se fizesse de rogado. O homem saiu escarreirado, pegou o cavalo e foi buscar os conselhos e remédios do farmacêutico, enquanto eu enchia novamente o meu copo, preocupado com a pobre mulher.
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