segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

O ESPÍRITO ARTÍSTICO DE ZEZINHO


Zezinho era um menino mirrado e amarelo que chegou ao Vivaranda e virou artista. A verdade é que ninguém sabia o seu nome verdadeiro e, como ele se recusasse a pronunciá-lo,  resolvemos chamá-lo por essa alcunha. Como estávamos em uma companhia teatral, não seria de se estranhar que alguns preferissem se utilizar dos seus nomes artísticos.

O Grupo de Teatro de Palco e Rua Vivaranda durante alguns anos perambulou pelas ruas da cidade apresentando “A Paixão de Cristo” durante a Semana Santa e, nos distritos e cidades vizinhas, interpretando as duas peças que, de certa forma, acabaram por dar alguma fama ao grupo de jovens corjesuenses: “O Sofrimento de Sofia” e “Alô, Doutor”.

A verdade é que o Zezinho, assim como eu, nunca teve um papel de destaque nas apresentações, contentando-nos em exercermos papeis como “Reis Magos”, “Assistentes do doutor” ou meros figurantes, além de carregarmos os instrumentos da fanfarra e alguns equipamentos das apresentações. Mas isso não importava, Zezinho e eu éramos artistas do Vivaranda.

Depois de alguns anos, o grupo que se reunia nas dependências da União Operária deu por finalizadas as suas ações. Já não viajaríamos para Lagoa dos Patos, Montes Claros, Taiobeiras; já não entraríamos em cena carregando um caixão, sob os olhares curiosos dos espectadores; já não distribuiríamos, aos gritos, em meio a uma pequena turba nas praças e ruas das cidadezinhas, as famosas pílulas “Cura Tudo”.  Já não éramos mais os jovens artistas de antigamente.

Zezinho, porém, não se deu por vencido. O menino mirrado, amarelo e de poucas palavras já se tinha imbuído do espírito artístico e isto era um caminho sem volta. Por isso, comumente sua voz ainda pode ser ouvida nas rádios e nos carros de som, seu espírito musical pode ser visto e dançado nos shows que anima pelas festas da região e sua capacidade interpretativa ainda hoje pode ser apreciada nas aulas que leciona como verdadeiro protagonista. Tudo culpa do Vivaranda.

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