Zezinho era um menino mirrado e amarelo que chegou
ao Vivaranda e virou artista. A verdade é que ninguém sabia o seu nome
verdadeiro e, como ele se recusasse a pronunciá-lo, resolvemos chamá-lo por essa alcunha. Como estávamos
em uma companhia teatral, não seria de se estranhar que alguns preferissem se utilizar
dos seus nomes artísticos.
O Grupo de Teatro de Palco e Rua Vivaranda durante
alguns anos perambulou pelas ruas da cidade apresentando “A Paixão de Cristo”
durante a Semana Santa e, nos distritos e cidades vizinhas, interpretando as
duas peças que, de certa forma, acabaram por dar alguma fama ao grupo de jovens
corjesuenses: “O Sofrimento de Sofia” e “Alô, Doutor”.
A verdade é que o Zezinho, assim como eu, nunca teve
um papel de destaque nas apresentações, contentando-nos em exercermos papeis
como “Reis Magos”, “Assistentes do doutor” ou meros figurantes, além de
carregarmos os instrumentos da fanfarra e alguns equipamentos das
apresentações. Mas isso não importava, Zezinho e eu éramos artistas do
Vivaranda.
Depois de alguns anos, o grupo que se reunia nas
dependências da União Operária deu por finalizadas as suas ações. Já não
viajaríamos para Lagoa dos Patos, Montes Claros, Taiobeiras; já não entraríamos
em cena carregando um caixão, sob os olhares curiosos dos espectadores; já não
distribuiríamos, aos gritos, em meio a uma pequena turba nas praças e ruas das
cidadezinhas, as famosas pílulas “Cura Tudo”. Já não éramos mais os jovens artistas de
antigamente.
Zezinho, porém, não se deu por vencido. O menino
mirrado, amarelo e de poucas palavras já se tinha imbuído do espírito artístico
e isto era um caminho sem volta. Por isso, comumente sua voz ainda pode ser
ouvida nas rádios e nos carros de som, seu espírito musical pode ser visto e
dançado nos shows que anima pelas festas da região e sua capacidade
interpretativa ainda hoje pode ser apreciada nas aulas que leciona como
verdadeiro protagonista. Tudo culpa do Vivaranda.
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