Parece que a chuva resolveu dar uma trégua, talvez não por muito tempo. E junto dela, para o prazer dos insaciáveis, a vida começa a voltar à velha rotina. Por isso, alguns já até pararam de lançar impropérios contra São Pedro, ainda que os olhos de sol continuem desenhados em alguns quintais.
Do sofá da sala, com a televisão mostrando os estragos causados em BH, enquanto beberico meu café de rapadura, dividindo os pães de queijo com Nino, o mais novo membro da família, já ouço as máquinas de lavar trabalhando arduamente nas casas vizinhas, enquanto uma voz entoa alegremente uma música antiga.
Um carro tenta se desengasgar não muito longe, tossindo um barulho rouco, enquanto alguns homens conversam quase gritando, discutindo se ele ainda está frio ou se tem alguma gangrena no motor, levantando e descendo o capô, tirando e colocando as mangueiras, mudando os fusíveis, limpando as velas.
As varredeiras varrem a rua enquanto contam causos, acontecidos ou inventados; uma mulher corta os galhos de uma planta que nunca para de crescer; alguns cachorros correm de um lado para outro, rasgando os sacos de lixo colocados nas calçadas pelas donas de casa, brincando no meio da rua, correndo atrás dos meninos que descem de bicicleta.
Parece que a chuva deu mesmo uma trégua, certamente não por muito tempo. E a vida começou a andar novamente. Mas, se, em meio a tamanho burburinho, cada um se aquietar um pouco, é possível ouvir a canção que vem da lagoa, num chuvoso sorriso, a espera de novas precipitações pluviométricas.
A chuva ronda BH,parecendo que está escolhendo qual é a região que será destruída.
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