Foi durante a última grande enchente do São Francisco, quando as notícias ainda chegavam trazidas pelos caminhoneiros que vinham de Ibiaí. Eram tempos de muita chuva, com péssimas estradas e incontáveis atoleiros.
Nesse cenário, Luís de Andrelino foi quem se dera bem. Assim que as chuvas começaram, pegou o seu trator e pôs-se de prontidão à beira da estrada, bem ao lado de um lamaçal de enormes proporções. Como era grande o movimento, cobrava preços razoáveis para puxar cada carro, ganhando o seu dinheirinho e a estima dos motoristas.
Todos conheciam Luís e lhe queriam bem. Os caminhoneiros que vinham de Ibiaí traziam-lhe muitos peixes, que ele dividia com os moradores vizinhos. Estes, vendo que o homem ganhava boa grana e diversos mimos desatolando os carros, passaram a levar- lhe lanches diários e, depois, pediam favores e algum emprestado.
Luís sentia-se importante e procurava agradar a todos, para que não perdesse o apreço de cada um. Com o tempo, passou a não cobrar pelo serviço que prestava ao desatolar os veículos, contentando-se com os mimos que ganhava e que, gentilmente, distribuía com os seus amigáveis vizinhos.
Como deveria ser, a chuva foi embora; os lamaçais acabaram-se e já não fazia mais sentido ficar com o trator parado à beira da estrada. Ainda assim, Luís continuava em seu posto, talvez à espera dos peixes e dos mimos dos viajantes. Ninguém mais parava, não traziam mais nada e nem mesmo buzinavam para ele.
Deitado ao lado do trator, o homem ficava todo o dia a olhar os carros passarem de um lado para outro, sem que nenhum vizinho lhe trouxesse mais qualquer coisa para beber ou comer. Já não era mais tão importante como outrora e já não tinha nem mesmo o dinheiro, que antes sobrava, para o sustento da casa.
Luís lembrou-se da grana que havia emprestado para os vizinhos e pensou que já era a hora de cobrar. Como ninguém lhe abrisse as portas, resolveu deixar aquilo de lado; afinal, de nada adiantaria todo aquele desgaste. Já não era importante, eles não tinham por que se preocupar.
É bem verdade que hoje as chuvas já não caem como antigamente e, por isso, já não se justifica a presença de Luís, com o seu trator à beira da estrada; mas, muitos daquela época ainda dizem encontrá-lo por várias plagas em busca de quem infle seu ego novamente.
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