Li, algures, que os paraquedistas já estão aterrissando por estas plagas. É óbvio que se estava falando sobre os políticos oportunistas que a cada dois anos aparecem em busca de votos e mais poder. Também me parece claro que tão cedo estes não se acabarão, afinal, os catrumanos necessitam de atenção e sentem-se comovidos quando alguém lhes oferece qualquer gesto de carinho.
Em outros tempos, outros paraquedistas já vinham por estas bandas e traziam consigo todo um aparato para fisgarem os nossos humilíssimos leitores. Eu ainda era menino de calças curtas e já saía correndo pelas ruas esburacadas do Buriti, correndo atrás dos aviõezinhos que passavam jogando santinhos com as caretas dos candidatos. Aquilo mais parecia a chuva de que tanto sempre precisamos e que vez ou outra aparecia por aqui.
Junto dos outros meninos, eu corria pegando uma centena de papeizinhos, que depois virariam dinheiro nas nossas brincadeiras na casa de Sílvia, a nossa vizinha, mãe do Zé Domingos. E, enquanto corríamos, gritávamos, balançávamos os braços e imaginávamos, todos, o dia em que voaríamos num aviãozinho igual àqueles que apareciam em épocas de eleição.
Mas o melhor ainda estava por vir. Antes que as pequenas aeronaves descessem no campo do Cecorje ou na AABB, alguns paraquedistas (os de verdade) pulavam lá de cima e, como bonecos de plástico, vinham rodopiando ao bel-sabor do vento, miravam algum ponto imaginário e pousavam, para nova desabalada carreira de nós meninos. E quando chegavam, víamos que não eram bonecos, mas corajosos rapazes que usavam roupas grossas e puxavam para dentro de suas mochilas enormes lonas e um emaranhado de cordas.
Os paraquedistas, voadores e políticos, iam embora rapidamente, para voltarem, quem sabe, dois anos depois. Enquanto isso, nós, cheios de sonho e dinheiro, brincávamos de comprar paraquedas e aviões; pegávamos alguns sabugos de milho; amarrávamos sacolinhas de plástico e jogávamos com toda força para cima, só para vê-los cair rodopiando, feito os nobres homens do ar.
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