domingo, 12 de janeiro de 2020

UMA CRÔNICA REFRESCANTE


O sol tem andado mesmo muito quente neste mês de janeiro e isso não é anormal, afinal, desde que me entendo por gente, o início de ano costuma nos queimar a moleira. Nos outros anos, porém, sobretudo nos mais longínquos, esta era uma época de chuvas consideráveis, com enchentes, relâmpagos e trovoadas.

Os entendidos afirmam que tudo isto tem se dado pelas mudanças climáticas, causadas principalmente pelas toscas ações humanas. Embora eu tenha visto infindáveis plantações de eucalipto pelas minhas andanças por estas plagas, prefiro não discutir o assunto e, consequentemente, não falar sobre o processo de desertificação que vem ocorrendo na nossa região catrumana, afinal, esta tende a ser uma Crônica de refresco em meio a todo este calor.

 A fim de amenizar as sensações térmicas elevadas, seria de bom tom levar a família para um descanso à beira da lagoa, onde haveria de tomar uma cerveja gelada comendo um tiragosto de peixe, enquanto os meninos brincariam na areia debaixo do pé de mangas. Mas, pensando bem, talvez o mais plausível seja mesmo ficar em casa assistindo futebol, deitado no chão frio, sem o gosto do peixe nem os riscos do sol e da água.

Enquanto isso, as lembranças  surgem. São lembranças ainda quentes, que pouco a pouco vão se esfriando, até que um dia me sumam por inteiro da mente. Lembranças nostálgicas de quando, debaixo do sol escaldante, Seu Lila passava em frente de casa vendendo suas vasilhas de ferro batido ou de alumínio e seus grandes copos de lata e Seu Zé Planeta passava carregando sua cesta cheia de pães de queijo, gritando pra todo mundo ouvir “Olha o pão de queijo! Tá quentin, Tá quentin”!

Eu era ainda menino pequeno e brincava na rua, correndo atrá de bolas feitas de meia e de plástico; saltando os buracos da erosão causada pelas chuvas e vez ou outra tampados pela prefeitura, brincando e brigando com Zé Domingos, o filho da vizinha,  enquanto os dois senhores passavam para lá e para cá debaixo do sol castigador. Dentro de pouco tempo a chuva chegava; Seu Zé Planeta e Seu Lila sumiam, enquanto minha mãe gritava para que eu fosse tomar banho. Eu era pequeno, tomava banho e, cansado, dormia; depois acordava avariado, com meus pais tomando café e assistindo tv.
- Bom dia, Negão. Vai tomar café que o dia já amanheceu.
Eu levantava atordoado e punha meu café, enquanto o Faustão tagarelava. Ainda era domingo e nem mesmo tinha anoitecido.

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