O sol tem andado mesmo
muito quente neste mês de janeiro e isso não é anormal, afinal, desde que me
entendo por gente, o início de ano costuma nos queimar a moleira. Nos outros
anos, porém, sobretudo nos mais longínquos, esta era uma época de chuvas consideráveis,
com enchentes, relâmpagos e trovoadas.
Os entendidos afirmam
que tudo isto tem se dado pelas mudanças climáticas, causadas principalmente
pelas toscas ações humanas. Embora eu tenha visto infindáveis plantações de
eucalipto pelas minhas andanças por estas plagas, prefiro não discutir o
assunto e, consequentemente, não falar sobre o processo de desertificação que
vem ocorrendo na nossa região catrumana, afinal, esta tende a ser uma Crônica
de refresco em meio a todo este calor.
A fim de amenizar as sensações térmicas
elevadas, seria de bom tom levar a família para um descanso à beira da lagoa,
onde haveria de tomar uma cerveja gelada comendo um tiragosto de peixe,
enquanto os meninos brincariam na areia debaixo do pé de mangas. Mas, pensando
bem, talvez o mais plausível seja mesmo ficar em casa assistindo futebol,
deitado no chão frio, sem o gosto do peixe nem os riscos do sol e da água.
Enquanto isso, as
lembranças surgem. São lembranças ainda
quentes, que pouco a pouco vão se esfriando, até que um dia me sumam por
inteiro da mente. Lembranças nostálgicas de quando, debaixo do sol escaldante,
Seu Lila passava em frente de casa vendendo suas vasilhas de ferro batido ou de
alumínio e seus grandes copos de lata e Seu Zé Planeta passava carregando sua
cesta cheia de pães de queijo, gritando pra todo mundo ouvir “Olha o pão de
queijo! Tá quentin, Tá quentin”!
Eu era ainda menino
pequeno e brincava na rua, correndo atrá de bolas feitas de meia e de plástico;
saltando os buracos da erosão causada pelas chuvas e vez ou outra tampados pela
prefeitura, brincando e brigando com Zé Domingos, o filho da vizinha, enquanto os dois senhores passavam para lá e
para cá debaixo do sol castigador. Dentro de pouco tempo a chuva chegava; Seu
Zé Planeta e Seu Lila sumiam, enquanto minha mãe gritava para que eu fosse
tomar banho. Eu era pequeno, tomava banho e, cansado, dormia; depois acordava
avariado, com meus pais tomando café e assistindo tv.
- Bom dia, Negão. Vai
tomar café que o dia já amanheceu.
Eu levantava atordoado
e punha meu café, enquanto o Faustão tagarelava. Ainda era domingo e nem mesmo
tinha anoitecido.
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