Estive às voltas com os orelhões por estes dias. O
mais difícil, nestes tempos de incontáveis tecnologias, sobretudo nas pequenas
cidades, é encontrá-los pelas ruas e, se encontramo-los, é tê-los em perfeito
funcionamento. Os de ficha já não existem, assim como se findaram as fitas
cassetes, os walkmans, dentre tantas outras modernidades de tempos passados.
Quanto aos orelhões de cartão, os poucos que se podem encontrar nas pequenas
urbes, ficam de enfeite (de péssimo gosto, por sinal) nalgum canto, sempre com
seus problemas incapacitantes.
Em meio à celeridade do mundo virtual, andamos
atolados em nossos telefones móveis, valendo-nos das redes sociais e suas
facilidades. Como de praxe, o governo, em todas as suas esferas, teima em nos
contrariar e, para uma simples consulta de dados, ordena que liguemos de um
telefone público, de um aparelho que não funciona, fazendo com tenhamos que
perambular por toda a cidade, gritando em cada orelhão, segurando para não
esmurrar a intransigente ferramenta.
Como tudo tem o seu lado bom, o périplo pelos
orelhões corjesuenses fez-me recordar os tempos das fichas, quando saíamos de
casa com os bolsos carregados para ligar nas rádios e pedir músicas, para
conversar com os parentes de outras plagas, rapidinho, que era para não gastar
todas de uma vez, para passar trotes em números escolhidos aleatoriamente. Eram
tempos em que não tínhamos ainda tantas tecnologias e mal sabíamos para que
serviam os governos.
Algumas coisas ainda permanecem iguais nos orelhões,
porque os adolescentes ainda são os mesmos, com suas ideias, seus pensamentos e
suas canetas. Cada aparelho ainda traz consigo nomes de pessoas, números de
telefones e recadinhos apaixonados, como o que dizia, dentro de uma pequena
nuvem: “Luana, você é a lua que brilha na minha noite!”. Não há dúvidas, os
orelhões ainda possuem alguma serventia, ainda que Luana certamente nunca
haverá de ler o recado deixado pelo seu anônimo apaixonado, pois deve estar
entretida nalgum bate papo virtual.
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