segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

CHICO, O HERÓI DO DIA-A-DIA


Na tarde desse domingo, Chico, de acordo com o jornal, sem camisa e sem chinelos, pulou no ribeirão Arrudas para salvar  um homem de dentro de um carro. Talvez a vítima estivesse embriagada; quiçá tivesse brigado com a esposa e, disposto a acabar com todo o seu sofrimento, sem nem pensar nas dores que causaria aos que ficavam, haja vista que devia ter filhos e talvez a esposa ainda o amasse, jogara o carro contra o curso d’água que corta a capital. Mas isso não importa: Chico o salvou.

O motorista do carro continuará vivendo a sua vida e pode ser que a esposa o aceite novamente; pode ser que pare de beber; e, talvez, quem sabe, nem tenha sido esse o motivo do acidente. Ainda assim, ficará o dito pelo não dito, com cada leitor criando a sua própria versão, dando as muitas causas e todas as continuidades desse fato insólito. Mas, nada disso importa, afinal, Chico o salvou.

Chico (Chicão para os amigos; Chiquinho para os irmãos; Alexandro para os clientes que compram suas colchas, seus cobertores e algumas almofadas) certamente não ganhará qualquer medalha pelo seu ato heroico, assim como não virará nome de alguma rua do bairro onde mora e nem ao menos ganhará uma pomposa gratificação da vítima pela qual se jogara nas poluídas águas do Arrudas. Mas, isso não importa.

Chico haverá de continuar acordando todos os dias de madrugada para trabalhar e ao chegar em casa ficará feliz ao receber o beijo da esposa e o carinho dos filhos; não deixará subir pela cabeça a fama que terá ganho no Salgado Filho, assim como em todo o oeste de BH; e continuará ajudando os amigos nos mutirões de final de semana, subindo escadas com baldes de concreto, assim como assará, ainda, muita batata nas noites belo-horizontinas, nas fogueiras que, decerto, ainda faz com os filhos no quintal de sua casa. Mas, isso não importa.

O motorista do carro foi levado até o posto de saúde e deve estar agora em casa, descansando, pensando em todo o prejuízo que tomara, afinal, perdera o seu carro e, talvez, até mesmo dinheiro, celular e algum outro bem que estava dentro do veículo. Talvez Chico esteja trabalhando, com todas as suas dores e os seus hematomas, afinal, hoje é segunda-feira e a vida tem que continuar. Mas isso não importa, pois Alexandro Francisco continuará sendo o mesmo herói de sempre.

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