Na tarde desse domingo,
Chico, de acordo com o jornal, sem camisa e sem chinelos, pulou no ribeirão
Arrudas para salvar um homem de dentro
de um carro. Talvez a vítima estivesse embriagada; quiçá tivesse brigado com a
esposa e, disposto a acabar com todo o seu sofrimento, sem nem pensar nas dores
que causaria aos que ficavam, haja vista que devia ter filhos e talvez a esposa
ainda o amasse, jogara o carro contra o curso d’água que corta a capital. Mas
isso não importa: Chico o salvou.
O motorista do carro
continuará vivendo a sua vida e pode ser que a esposa o aceite novamente; pode
ser que pare de beber; e, talvez, quem sabe, nem tenha sido esse o motivo do
acidente. Ainda assim, ficará o dito pelo não dito, com cada leitor criando a sua
própria versão, dando as muitas causas e todas as continuidades desse fato
insólito. Mas, nada disso importa, afinal, Chico o salvou.
Chico (Chicão para os
amigos; Chiquinho para os irmãos; Alexandro para os clientes que compram suas
colchas, seus cobertores e algumas almofadas) certamente não ganhará qualquer
medalha pelo seu ato heroico, assim como não virará nome de alguma rua do
bairro onde mora e nem ao menos ganhará uma pomposa gratificação da vítima pela
qual se jogara nas poluídas águas do Arrudas. Mas, isso não importa.
Chico haverá de continuar
acordando todos os dias de madrugada para trabalhar e ao chegar em casa ficará
feliz ao receber o beijo da esposa e o carinho dos filhos; não deixará subir
pela cabeça a fama que terá ganho no Salgado Filho, assim como em todo o oeste
de BH; e continuará ajudando os amigos nos mutirões de final de semana,
subindo escadas com baldes de concreto, assim como assará, ainda, muita batata
nas noites belo-horizontinas, nas fogueiras que, decerto, ainda faz com os filhos
no quintal de sua casa. Mas, isso não importa.
O motorista do carro foi
levado até o posto de saúde e deve estar agora em casa, descansando, pensando
em todo o prejuízo que tomara, afinal, perdera o seu carro e, talvez, até mesmo
dinheiro, celular e algum outro bem que estava dentro do veículo. Talvez Chico
esteja trabalhando, com todas as suas dores e os seus hematomas, afinal, hoje é
segunda-feira e a vida tem que continuar. Mas isso não importa, pois Alexandro
Francisco continuará sendo o mesmo herói de sempre.
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