sábado, 14 de março de 2020

FERNANDO

Lembro-me bem do Fernando. Se não era alto, também não era baixo; se não era gordo, também não era magro; se não era rico, também não era pobre. Era, como diz um velho amigo, um sujeito inexpressivo.

Acredito que tenhamos estudado juntos em algum momento, mas disso não me lembro ao certo; também não sei se já fomos amigos em algum espaço da nossa coexistência, afinal, as amizades são exatamente assim, ocorrem demasiadamente por algum tempo e, depois, já não passam de meras lembranças que vão se afastando, afastando, até que se tornem vultos longínquos; a não ser que sejam daquelas verdadeiras, que, de fato, nunca se acabam; o que certamente não teria sido o nosso caso.

Pode ser que Fernando e eu tenhamos trabalhado juntos em alguma rádio, em alguma firma, em alguma escola, mas, confesso, não faço a mínima ideia se isso de fato aconteceu. Se trabalhamos, pode ter sido em setores distintos, em cargos opostos, quiçá em turnos desencontrados.

Pensando bem, não me lembro de verdade do Fernando. Aliás, nem sei se esse era mesmo o seu nome. Pode ser que eu esteja falando do Ricardo, do Everaldo ou do Toninho. Também não me recordo se era loiro ou moreno, se tinha os olhos azuis, verdes ou castanhos, se era destro ou canhoto. Talvez ele tenha se casado, virado padre, ou talvez seja um triste rapaz solteiro; quem sabe, um destemido Don Juan. 

Existe a possibilidade de que ele seja apenas uma invenção, assim como pode ainda nem ter nascido, ou, que Deus o livre, já não esteja mais entre nós. Ainda assim, descanse em paz, meu caro amigo Fernando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário