Alguém disse que, após a Pandemia, as festas
esfriaram-se e que as pessoas se esqueceram de como fazê-las. A culpa não é do
Corona vírus. Esta decadência festiva – e não falo aqui das grandes festividades
promovidas pelas prefeituras e igrejas, que talvez nunca se acabarão – não se
resume a este tempo, mas vêm de anos de constante esquecimento.
Uma
das verdades é que, paulatinamente, temos nos esquecido de festejar, de
comemorar; ainda que não as grandes vitórias, mas também a vida, o simples fato
de acordar... de existir. Estamos nos tornando pessoas reservadas,
individualistas, antissociais. Estamos nos tornando indivíduos midiáticos e, ao
mesmo tempo, solitários; pois queremos aparecer sem que precisemos nos confraternizar.
Quem
não se lembra das festas nas roças, nos quintais, nas garagens e varandas das
casas, quando, em pequenos grupos, depois dos terços, das rezas, conversávamos
e dançávamos; muitas vezes, até que o dia nascesse e a labuta nos chamasse para
a dura realidade.
Não
havia pompas, não existia luxos, e, acredite, às vezes, nem mesmo motivo havia.
Bastava que alguém chegasse com um violão, outro com um pandeiro e aparecesse
uma sanfona que se fazia a algazarra. Um, mais açoitado, gritava um “Bora
dançar, pessoal! ”; outro agarrava a companheira pela cintura e... era dois pra
lá, dois pra cá...
Não
importava se a roupa era nova e o chão de terra batida ou se a calça era branca
e o quintal estava tomado pela lama; o importante era não passar “chanfrão”, não
“levar um fora”, nem ficar parado. As mães mandavam as filhas dançarem, sempre
de olho, para que os rapazotes não passassem do limite e as moçoilas não
mostrassem “riguilimento”, se não já ia toda a família para casa.
Naquele
tempo, não havia celular. Ninguém filmava. Ninguém ficava sentado num cantinho
conversando nas redes sociais, com o fone nos ouvidos, com os olhos na tela.
Naquele tempo, todo mundo sabia o nome de cada um; cada família tinha um
apelido que servia para todos; todo mundo cumprimentava todos pelo nome, com um
aperto firme de mãos, com um olhar altivo bem nos olhos do interlocutor.
Daquele
tempo, quem não se lembra dos cheiros, dos sabores, das músicas, das danças?! Mas
tudo isso era em outro tempo, quando o mundo ainda não era moderno. Quando
ainda não éramos midiáticos, não tínhamos celulares, não queríamos virar memes,
ser famosos e conquistar likes. Queríamos apenas comemorar o simples fato de
existir, de sonhar, de viver e de sorrir de tudo e para todos... Mas, isso...
foi naquele tempo!
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