segunda-feira, 14 de novembro de 2022

NAQUELE TEMPO

 

          Alguém disse que, após a Pandemia, as festas esfriaram-se e que as pessoas se esqueceram de como fazê-las. A culpa não é do Corona vírus. Esta decadência festiva – e não falo aqui das grandes festividades promovidas pelas prefeituras e igrejas, que talvez nunca se acabarão – não se resume a este tempo, mas vêm de anos de constante esquecimento.

            Uma das verdades é que, paulatinamente, temos nos esquecido de festejar, de comemorar; ainda que não as grandes vitórias, mas também a vida, o simples fato de acordar... de existir. Estamos nos tornando pessoas reservadas, individualistas, antissociais. Estamos nos tornando indivíduos midiáticos e, ao mesmo tempo, solitários; pois queremos aparecer sem que precisemos nos confraternizar.

            Quem não se lembra das festas nas roças, nos quintais, nas garagens e varandas das casas, quando, em pequenos grupos, depois dos terços, das rezas, conversávamos e dançávamos; muitas vezes, até que o dia nascesse e a labuta nos chamasse para a dura realidade.

            Não havia pompas, não existia luxos, e, acredite, às vezes, nem mesmo motivo havia. Bastava que alguém chegasse com um violão, outro com um pandeiro e aparecesse uma sanfona que se fazia a algazarra. Um, mais açoitado, gritava um “Bora dançar, pessoal! ”; outro agarrava a companheira pela cintura e... era dois pra lá, dois pra cá...

            Não importava se a roupa era nova e o chão de terra batida ou se a calça era branca e o quintal estava tomado pela lama; o importante era não passar “chanfrão”, não “levar um fora”, nem ficar parado. As mães mandavam as filhas dançarem, sempre de olho, para que os rapazotes não passassem do limite e as moçoilas não mostrassem “riguilimento”, se não já ia toda a família para casa.

            Naquele tempo, não havia celular. Ninguém filmava. Ninguém ficava sentado num cantinho conversando nas redes sociais, com o fone nos ouvidos, com os olhos na tela. Naquele tempo, todo mundo sabia o nome de cada um; cada família tinha um apelido que servia para todos; todo mundo cumprimentava todos pelo nome, com um aperto firme de mãos, com um olhar altivo bem nos olhos do interlocutor.

            Daquele tempo, quem não se lembra dos cheiros, dos sabores, das músicas, das danças?! Mas tudo isso era em outro tempo, quando o mundo ainda não era moderno. Quando ainda não éramos midiáticos, não tínhamos celulares, não queríamos virar memes, ser famosos e conquistar likes. Queríamos apenas comemorar o simples fato de existir, de sonhar, de viver e de sorrir de tudo e para todos... Mas, isso... foi naquele tempo!  

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