Deu nos jornais que o Palmeiras estaria
vendendo o menino Endrick, de 16 anos, por 72 milhões de reais ao poderoso Real
Madrid, da Espanha, sem que o atleta tenha jogado ao menos cinco partidas pelo
profissional do Verdão, clube onde, de acordo com a televisão, o pai ainda
trabalha como serviços gerais. E, confesso, tudo isso me assusta: as cifras, os
poucos jogos jogados, o mundo do futebol enfim.
Não digo que o jovem não mereça tudo isso,
assim como não sou capaz de ratificar ou refutar a opinião, de muitos
entendidos, de que ele certamente será um dos grandes do futebol mundial. Só
sei que, a cada dia, maiores são as cifras do esporte bretão, que há muito
deixou de ser apenas um espetáculo, uma diversão, para se transformar em um dos
mais rentáveis negócios mundo à fora.
Ao bem da verdade, faz-se necessário o
reconhecimento de que estes são outros tempos e que de nada adianta o
saudosismo, pior, a nostalgia, de quando ainda jogávamos por amor ao esporte,
honrando a camisa que durante anos vestíamos sem nem sonhar em virar a casa e,
quase sempre, sem receber nenhum tostão para correr atrás da gorduchinha.
Durante algum tempo desfilei meu arsenal de
bizarrices com a bola pelos campos corjesuenses, sempre pelo Real Madri, sem
grandes pretensões e nem mesmo condições. Como diriam alguns críticos: jogava
por pirraça e mesmo a natureza já me marcava. E, apesar das críticas, nunca me
abalava, afinal, o que importava era a emoção de estar em campo, as farras nas
viagens para os campos dos povoados, a euforia dos gols marcados e das defesas
realizadas.
É verdade que alguns dos nossos poderiam ter
ido a algum grande clube, ter feito carreira como futebolista, quem sabe, ir para
a Europa e jogar em Madrid. Ninguém foi. Cada um preferiu seguir a sua vida em
terras catrumanas, labutando de sol a sol, bebendo cerveja nos fins de tarde e
batendo suas bolinhas nos finais de semana. Definitivamente, não eram mesmo
para o futebol profissional.
Alguns de nós ainda nutriam a esperança de
jogar em um grande clube, ainda que muitos destes não tivessem a mínima condição
de passar em qualquer teste futebolístico; como o zagueirão do nosso time, um
sujeito alto e forte que nem mesmo conseguia chutar a bola para onde o nariz
apontava e quase sempre saía do campo com pelo menos um gol para a sua conta...
sempre contra o próprio time.
Havíamos perdido por 3 a 0, com um gol contra
dele, e, ao final do jogo, enquanto ainda nem tínhamos saído de campo, veio com
a pérola:
- Elismar, o que acha de a gente fazer um teste
no Galo? Os jogadores não são tão bons assim, tem que dá é sorte para entrar...
Nem esperei pelo fim da explicação. Gritei pelo
atacante, que já entrava no barzinho que ficava colado ao campo e deixei que o
meu companheiro de zaga continuasse com suas ilusões de atleta profissional,
com a certeza de que ele não estaria falando sério. Mas, confesso que hoje uma
dúvida ainda me tira algumas noites de sono: será que, se tivéssemos feito
algum teste, teríamos a sorte de passar?!
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