segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O ANALEMA

 

Do meu escritório, enquanto ouço o barulho da chuva, que cai mansamente sobre o telhado nesta manhã de segunda-feira, chego à mais clara de todas as minhas óbvias conclusões: A vida é um Analema (aquela figura assimétrica que se forma no céu se a cada dia, sempre do mesmo ponto fixo, fotografarmos o sol num determinado exato momento), num infinito ir e vir.

Talvez eu não consiga me fazer entender, e assim o fazemos grande parte dos cronistas, pois ainda que tentemos, quase sempre, escrever o óbvio, terminamos nos perdendo no emaranhado dos nossos próprios pensamentos, sem nunca conseguirmos nos libertar, para, depois, já tomados pelo cansaço, aceitarmos a nossa falta de força e amainarmos definitivamente todas as nossas velhas certezas.

Por ora, deixemos de lado as divagações filosóficas e passemos à vida, ou ao Analema. Antes, porém, enquanto avia um copo de café ou uma taça de vinho, dispa-se de todas as suas convicções e aceite que nem tudo que você pensa seja totalmente verdade ou completas mentiras, assim como todas as suas certezas de outrora possam se transformar em descabidas mentiras num mínimo instante.

O sol, embora trace uma rota no céu, enquanto tiramos as nossas fotos diárias, nunca foge ao seu caminho estabelecido, simplesmente descendo ao sul e subindo ao norte, como se formasse um infinito assimétrico, sem desanimar e sem se preocupar com o que pensamos nós aqui embaixo. Assim também somos nós, pobres mortais, uma hora por cima noutras por baixo, mas sem nunca fugirmos da nossa rota.

A taça de vinho já vai pela metade, enquanto um bem-te-vi bate à janela, impaciente, gritando pelas migalhas que todos os dias, sempre nesta mesma hora, deposito no pratinho pendurado na laranjeira, sem se importar com as minhas divagações e as minhas certezas que, brevemente, se transformarão em dúvidas para, logo depois, serem esquecidas em algum compartimento escuro de alguma gaveta, em algum armário, no velho depósito nos fundos da casa.

Embora haja dúvidas, sejamos como o sol. Afinal, desanimar não resolverá nossos problemas, assim como os pensamentos alheios não nos ensinarão qual o melhor caminho a seguir... Caminho que não importa, pois que, neste Analema, onde sempre damos no mesmo lugar, o importante é a caminhada... sempre! 

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