domingo, 19 de setembro de 2010

BELO HORIZONTE

BELO HORIZONTE


Final de semana passado estive em Belo Horizonte. Passeei pela Afonso Pena, pela Bahia, Amazonas; tirei fotografias na praça da estação; fiz compras no Oiapoque; Admirei o prédio do Conservatório; viajei pelo centro de BH e, indescritivelmente, pelo passado de Minas.
Para muitos a capital mineira é apenas mais um ponto de compras, com roupas, sapatos, bolsas e outros produtos a preços módicos. Para este cronista aquela cidade é o símbolo da boa Literatura e música de qualidade, o ponto de encontro entre a tradição e o moderno, com um jeitinho mineiro de ser.
Um colega de quarto com um nome diferente – Menderson- foi quem deu a deixa: “Em toda esquina que se vai nesta cidade, logo se vê um boteco”, eis o espírito boêmio de nossa Capital. Boemia que se transforma em poesia, em prosa, numa dose de pinga e um bate papo tranqüilo com alguns conhecidos.
E pensar que pelas ruas que humildemente passei, passos ilustres foram dados por Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, e vários outros escritores, todos com os pensamentos em intensa ebulição, às voltas com um personagem, uma cena, uma ideia louca para se jogar numa folha de papel e ganhar vida eternamente.
Subi a Rua da Bahia, desci a Amazonas, fiz o caminho inverso, refiz todo o itinerário e, a cada volta que dava, maravilhado, notava que todos os escritores mineiros caminhavam comigo. Todos juntos, cheios de ideias, cheios de vida.



Coração de Jesus, 13/09/2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

FELICITAÇÕES E PENSAMENTOS

É interessante como os tempos mudam. No meu blog tem uma estatística que, acho, somente eu posso ver. Lá fico sabendo, por exemplo que pessoas do Canadá e dos Estados Unidos leem minhas crônicas. Que maravilha!Quem diria que um pequeno escritor de Coração de Jesus, escondido entre as serras norte-mineiras, longe do mar, nunca tendo viajado de avião, nem mesmo ultrapassado uma distância maior que mil quilômetros de sua terrinha pudesse ter seus textos lidos por gentes de outras paragens, melhor, internacional?!!
Enfim, estamos na era da globalização e, por isso, tudo é possível. É uma pena que essa, dita, globalização, ainda não seja capaz de garantir o sustento de um escritor simplesmente por seus escritos, acabar com uma guerra, promover a igualdade entre todos os seres humanos.
Por enquanto, contentemo-nos com as prazerosas leituras de leitores de outras plagas, de outras línguas, mas com ideias tão joviais e futurísitcas, embora, às vezes, saudosistas e, mesmo, nostálgicas, como as destes que vos ecreve.

Um grande abraço do poeta!!!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

AINDA MARIA


AINDA MARIA

As palavras são, verdadeiramente, seres frágeis que se desfazem junto ao vento diante da primeira investida de algum antigo sentimento. Eu disse que não falaria mais de Maria. A luta foi árdua e durante algum bom tempo consegui vencer a tentação de relembrá-la nestas poucas linhas. Sofri; certamente que tenho sofrido com as lembranças, e, o que é pior, com a relutância em dizê-lo a você, caro leitor.
Ontem a vi. Estava bela, vestida de forma simples, sem qualquer maquiagem ou exageros que marcam as mulheres de nossos dias. Não estava acompanhada, nem parecia entristecida; contrariamente, sua beleza fazia irradiar-se por todos os cantos em que passava e o que se sentia era uma alegria incontida, o que se mostrava no seu sorriso e em sua pele descansada.
Maria não me viu, nem tive coragem de mostrar-me a ela. Estava eu entristecido, cheio de rugas, de rusgas; cansado da imensa tristeza que me tomara desde o momento em que ela saíra de minha vida. Minto, ela não havia saído; continuava em mim, nos meus sonhos, nas minhas recordações, no meu choro diário; minha doce e meiga Maria se fazia transparecer, duramente, nas tantas rugas que se criaram em meu rosto.
Tive vontade de ir ao seu encontro; dizer-lhe do meu amor, dos meus sentimentos, da tristeza que toma a minha alma; quisera eu atravessar a rua, ajoelhar-me aos seus pés e suplicar a sua volta, o retorno incomensurável do seu amor. Não pude, faltou-me coragem, sobrou-me o pouco orgulho que ainda me resta.
Vendo-a repleta de beleza e alegria, ajuntei os meus cacos, recolhi toda a tristeza que caía de mim, em forma de lágrimas, e parti. Ao longe, com o coração em sobressaltos, ainda podia sentir o seu cheiro e toda a alegria que o acompanhava e, enquanto eu andava, o sorriso de minha doce e meiga Maria penetrava os meus ouvidos fazendo com que as lágrimas regassem minhas tristes rusgas.


Coração de Jesus, 27/08/2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

BRINCADEIRA DE CRIANÇA

BRINCADEIRA DE CRIANÇA


Quando ela entrara no quarto, sozinha, ninguém prestou atenção; o problema foi ela sair do quarto. A porta trancada por dentro não tinha chaves reservas e, por mais que tentasse, a pobrezinha não conseguia dar as duas voltas necessárias para que a ela se abrisse.
O tempo passava e a mãe enlouquecia. Os sentimentos se confundiam; primeiro, tentava acalmar a criança, para que não chorasse nem entrasse em pânico; depois, começavam as promessas de uma merecida sova, como pode uma criança entrar num quarto, sozinha, e trancá-lo por dentro! Eo pior, depois não conseguir abrir a porta!
Os olhos da mãe enchiam-se de lágrimas. Ela- a mãe- estava pálida, trêmula, receosa de que algo acontecesse com seu anjinho. Todos tentavam acalmar a criança, enquanto a mãe continuava a desesperar-se recostada junto à porta chamando pelo nome da menina.
As tentativas foram todas vãs. A janela estava fechada; travada por causa do risco de ladrões; a chave ficara inclinada, o que não permitia que a menina a retirasse de lá. O tempo passava, já era noite, uma noite fria de sábado, sem lua e sem graça nenhuma.
Por fim, uma solução extrema: chegara a hora de chamar o chaveiro. O homem não vinha e mãe quase tendo um ataque cardíaco; mais um pouco e arrebentaria a porta (do quarto ou do coração.). O homem veio sorridente; abriu a porta com cuidado, enquanto a mãe conversava com seu bebê, bajulando-a e prometendo, ainda, a merecida surra.
A porta, como que num sopro de alívio, se abriu. A mãe, já sem um pingo de sangue nas veias correu a abraçar sua pobre filhinha. As lágrimas corriam pelo rosto aliviado da mulher, quando a menina disse:
- mamãe, vamo brincar de novo!


Coração de Jesus, 28/08/2010