terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A DESPEDIDA

       A vida parou de repente. Sem sobressaltos ela abriu a porta e desceu. Não sabaia aonde ir, o que fazer, como agir. Ajeitou os cabelos, melhorou o sorriso e, antes de ir para sempre, resolveu revisitar os seus. Chegou de mansinho, sentou-se junto à mesa e pôs-se a saborear alguns pães de queijo que estavam sobre a mesa; tomou do café quentinho, adoçado com a rapadura que o pai fazia e conversou as velhas conversas de sempre.
       Falaram dos irmãos, dos tios, dos seus filhos, dos netos que iria ter. A mãe assentada sobre o fogão à lenha sujava um naco de fumo nas cinzas e punhas-se a passá-lo nos dentes; o pai, do outro lado da mesa, preparava um grosso cigarro de palha. O irmãos mais velho acabara de chegar da rua; disse que fazia um ventinho pelas bandas de baixo e, com certeza, haveria de chuver mais tarde. No curral, as vacas mugiam e o pai lembrava-se de que teria que tirar o leite de madrugada, mas que se chovesse aquilo ficaria uma balbúrdia, porque vaca é que nem a gente, naaão aguenta ver coisa diferente que se assanha.
       Fazia tempos que naão chovia. O gado estava magro; a mãe disse que duas reses jaá haviam morrido e que o córrego já estava por secar. O irmão lembrou-se da cadelinha Pitucha. Coitadinha! Ficara por ali, com sede, com fome, correndo atrás de tatu, veado, preá; até que a cegueira lhe viesse;entaão, pegou o seu caminho e foi morrer ao longe, no meio do mato.
       A conversa se prolongava. Ela sentia a tristeza lhe aumentando no peito. Sentia vontade de chorar; abraçar o pai, beijar a mãe, acariciar os cabelos bastante negros do irmão. Não; não o faria. Nunca o haviam feito. A família era assim, seca, bruta, mas cheia de amor. Isso se via nas conversas, nas brigas, no alimento que entrava todo dia em casa. Levantou-se devagarinho; deixou os seus a conversarem, abriu a porta e foi caminhando, caminhando, até que sumisse na escuridão.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A VIDA, ARNALDO E SUA ESPOSA

     Olhando pela janela é possível visualizar a vida passando, com seus pássaros sempre voando para o sul, as mulheres desfilando com seu rebolado saliente, os homens assentados debaixo das árvores sempre a por reparo nas vidas alheias. Assim, tudo passa, lentamente, preguiçosamente, feito não quisesse, mas fosse forçado a fazê-lo.
     Vez ou outra o Arnaldo passa em casa. Tem andado meio sumido. Diz estar feliz; ter voltado com a esposa; estar gozando a vida. Pobre Arnaldo, não sabe que a vida é cheia de altos e baixos e que, por isso, logo haverão de brigar novamente. De novo ficará triste. E a branquinha há de salvá-lo dos choros e da tristeza compulsiva.
     Ainda ontem os vi, ambos de braços dados. Ela com o cabelo esvoaçado pelo vento; com uma sainha bem curta e os seios a saltarem de um tomara-que-caia, convidativos ao prazer. O Arnaldo me parecia feliz, inocente, feito um menino a cerregar um brinquedinho para casa. Ambos formam um casal bonito. Ela com seus olhos de Capitu, ele com sua cara de Bentinho. Dois opostos que se atraem.
     O Arnaldo é gente boa. Sua esposa também é boa. A vida continua passando lentamente, enquanto eu saboreio um imenso pedaço de bolo de fubá  com meu café bem quente. Do velho banco, os homens olham o casalzinho que passa, enquanto eu, sentado na varanda, observo a vida e suas contradições... E a esposa do Arnaldo que passa de mãos dadas com ele e os olhos alheios.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

FOTOGRAFIAS

     O calor sobe do asfalto feito água fervente. Uma senhora passa arrastando uma criança pelo braço, provavelmente uma neta sua. Um cachorro, vorazmente, estraçalha um saco plástico, no lixo da esquina, em busca de alimento. Alguns homens, sentados num velho banco de cimento, debaixo do pé de sete-copas, olham as moças passando, enquanto comem-nas com os olhos. São moças bonitas, jovens, com mínusculos vestidos e shorts, em busca de felicidade e prazer.
     Sentado sob a varanda, no meu banquinho de madeira, tomando minha cerveja, fotografo toda a cena, no meu cérebro velho, traçando um paralelo entre o hoje e o ontem. E vejo que nada mudou, apenas o asfalto, fruto da nova administração. De resto, persistem as senhoras a puxarem seus netos pelo braço, os cachorros a rasgarem os sacos de lixo em busca de alimento, os homens a degustarem as mocinhas passantes. A vida é mesmo uma grande repetição!
     Uma vizinha bate roupa no tanque de pedra. O Eguimar levanta as portas do boteco. O jornaleiro passa entregando as más notícias diárias. Seu Vicente, liga o seu velho radinho de pilhas, um Motobrás original, e aboia suas crias, desde a madrugada, um cabrito acinzentado, duas galinhas garnizés e um cachorro empulgado, num eterno aiôu!, como nas velhas cantigas de antigamente.
     Seu Fulô, desce a rua no seu carro, devagarinho, com o vento quente lhe soprando a cabeça, pensando nos tempos idos. Alguns meninos sobem a rua com uma bola de capotão sob o sovaco. Vão para a barragem, jogar bola na areia quente e tomar banho em sua água lodosa. Uma voz me chama; é carinhosa, meiga, tímida e longíqua. Não responde; pode ser que seja a morte, a indesejada de todos que venha me resgatar. Aquieto em meu canto; tomo o restinho de minha cerveja. Está quente, a cerveja, o asfalto, meu peito. E as lembranças veem feito a água quente que se derrama na garrafa, lá na cozinha de dona Mariinha.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ÚLTIMO SUSPIRO

     Sentado no velho banquinho de madeira, sob a varanda, com o pé de sete-copas à frente, vejo a vida passando, como num filme, ora de humor ácido, tragédia ou romance. Alguns de boa qualidade, outros nem tanto. Fato é que a vida passa a minha frente, lentamente, placidamente, feito uma velha a bordar os retalhos de sua vida.
     Deste canto silencioso, vejo as velhas fotografias de minha vida: o carrinho cheio de bois de plástico correndo pelo quintal, cortando estradas de lama, entrecortadas entre os matagais e as poças d'água acumuladas da chuva; as barragens feitas na rua, segurando a água vinda da rua de cima, para depois ser solta de uma só vez, alagando toda a rua de baixo; a feitiçaria de criança para que um velho carro sumisse... E o carro sumindo...
     As lembranças veem acolhedoras, passam à minha frente, chegam à esquina, retornam e sentam-se ao meu lado. Pego o copo de café e beberico junto às lembranças, degustando-as uma a uma, até que minha alma esteja cheia, repleta de todas elas. Servido, sinto-me feliz e, de súbito, uma tristeza intensa toma conta do meu peito. Uma lágrima se forma e desce dos meus olhos, escorrem-me pela barba branca. Sinto um estremecimento estranho.
     Tento me levantar, mas as nostálgicas lembranças me prendem ao velho banco. A árvore vibra, como se dançasse uma canção antiga. Uma música íntimia chega-me aos ouvidos. Tento segurar uma outra ágrima que me tenta descer pela face. Fecho os olhos, numa tentativa frustrada de fuga. Abro-o lentamente buscando o horizonte e vejo, ao longe, ela vindo, toda de preto, de preto, de preto...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A VIDA E SUAS ESCOLHAS

     O sol quente queimava-lhe a testa, fazendo com que o suor lhe descesse feito enxurrada. Forçadamente, ele batia o enxadão na tentativa de aprofundar a vala. Ainda não chegava à metade do entardecer e o cansaço já lhe tomava o corpo. As costas doíam, os braços, as pernas e até a cabeça já começavam a gritar por socorro. 
     Lembrou-se da cerveja geladinha, do caldão com cebolinha verde do bar do Osmane, das latinhas de azeitona, dos beijos de Mariana. O tempo passava devagar, o serviço pesava e as lembranças lhe vinham à cabeça. Lembrava-se das chances que perdera, por não estudar, por não ousar, por não ter coragem de agir. Mariana era bonita, séria, sensual; mas Jaqueline era rica, menina mimada, gostosa, ousada.
     Por várias vezes ela o havia provocado. Era amiga da namorada, mas o tentava. Sentava-se à sua frente com uma saia curta a mostrá-lhe as pernas grossas, com seus pelinhos descoloridos brilhando de suor; sussurrava ao seu ouvido palavras baixas enquanto Mariana estava na cozinha; oferecia-se a ele quando estava a sós. Jaqueline era uma mulher sem excrúpulos e Mariana pobre.
     Um dia, Mariana descobrira tudo. As investidas da amiga e as fraquezas do namorado. Jogou-o contra a parede e sentenciou:
     - Ou ela ou eu. A escolha é somente sua!
     A rua estava deserta e silenciosa. Apenas o bater seco do enxadão na terra oca cortava o ar quente daquela hora e, enquanto pensava, ele pensava em Mariana, com a barriga pesando sob a blusa molhada de sabão, enquanto lavava as louças acumuladas na pia. Barrigão de oito meses a incomodá-la, chateando-a e enfeiando sua humilíssima paciência, enquanto um menino chorava chorava no quarto do casal, esfoemado, sem ter o que comer. Ele ficava com mais raiva e batia fortemente o enxadão, fazendo com que o suor lhe descesse mais insistente, misturando-se às lágrimas que escorriam dos olhos sofridos e tristes.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A LOIRA NO HOSPITAL

     Madrugada e a rua deserta. Uma moreninha, de olhar triste e roupa simples, passa de frente à garagem. Na certa trabalha em casa de alguma família rica, mora numa das favelas próximas e deve ter deixado um ou dois filhos adormecidos. A maior deve ser uma menina, com seus oito anos, e, certamente, cuidará do menorzinho, um moleque, de um mês e pouquinho, até que a mãe volte do serviço. Pensou em dar uma carona até o centro; mas desistiu. E se fosse uma criminosa? Quiçá uma observadora de alguma quadrilha armada? Melhor partir solitário!
     Quase uma hora até encontrar um estacionamento. O Flanelinha pediu  dez reais. Os buracos quebraram uma calota e tornou a desalinhar o carro. Agora, já passando a hora do almoço, nada do médico aparecer. Uma dor intensa na coluna, fruto do futebol de final de semana. Seis meses sem jogar, sem exercícios físicos, sem uma caminhada sequer. Uma bola lançada; um pique de cinco metros e o estralo doloroso nas costelas. Fora um dos primeiros a chegar no consultório, estava faminto, trêmulo, com sono  e nada do homem aparecer. Peguntara na recepção e nenhuma resposta; quisera gritar, brigar, chorar; não teve forças. Ficou quieto no seu canto, cabisbaixo, a espera do doutor.
      Tentava se mexer, dar uma caminhada, esticar o corpo, mas faltavam-lhe as forças. Tinha medo de que lhe travasse a coluna e não conseguisse se mover. Sentado no seu canto, olhava os transeuntes: um velho de cabelos brancos, com uma mocinha do lado, talvez sua neta, filha... ou esposa? Uma mulher gorda comendo um grande sanduíche; uma mulher magra, de meia idade, com quatro filhos; uma escadinha grudada à barra da saia e... de súbito, uma loira... Em pé na outra ponta do salão.
     Fixou os olhos naquela imagem. Era a loira que havia caído de frente à sua loja. Estava com uma roupa branca, talvez um jaleco ou um vestido. Devia ser enfermeira, ou acompanhante. Notou que ao seu lado um velhinho cochilava. Barrigudo, careca e baixinho, assim era aquele homem . O que se via eram duas imagens díspares: um velho decadente e uma loira maravilhosa. Fez menção de levantar-se, ira até a loura, perguntar sobre a queda, se tinha se machucado, se estava melhor. Não foi, ficou a penas a observá-la.
     Ela continuava linda. Esquecera-se do médico, das dores. Apenas olhava a loira e seus olhos lindos, seu corpo maravilhoso, coberto por aquele uniforme branco ( ou seria um vestido ? ). Era mesmo uma bela poesia, uma miragem, um conto de fadas erotizado. E enquanto a observava, seu coração disparava, o suor descia de sua testa e suas pernas tremiam. Resolveu ir ao seu encontro. Respirou fundo, limpou o suor da testa e levantou-se. Sentiu um forte baque nas costas e as vistas escurecerem. Antes de apagar vislumbrou a mais bela miragem que se pode ter, a loira, com os cabelos ao vento, olhava-o com um sorriso nos lábios e parecia flerta-lhe um olhar sensual.
     

sábado, 21 de janeiro de 2012

HAPPY HOUR

Ela chegou de mansinho e deu-lhe um beijo gostoso na nuca. Arrepiou-se, virou-se para ela e deu-lhe outro beijo.Ambos saíram de mãos dadas, sob os olhares invejosos dos  amigos. Foram para o apartamento dela; tomaram banho de banheira e foram para a cama. Era uma cama de mola, macia, gostosa. Ela também era, não de mola, macia... gostosa.
Não digo que se amaram. Apenas fizeram amor.As luzes acesas, para que ele a pudesse contemplar pelo espelho do teto. Como o seu corpo era bonito! Era morena, de uma pele clara, sem pelos, sem sobressaltos. Não era nenhuma menina, sem, contudo, ser uma velha. Era, de fato, experiente. Fê-lo viajar por vários momentos, esquecer dos problemas, das dívidas, das derrotas do seu time... (Quem haverá de pensar em derrotas nesse instante!).
Era magra, sem ser esquálida. Os olhos eram grandes... E ela fazia barulho quando transava... E isso quase o matava de tesão. Queria ficar a noite toda junto dela; sentir aquele corpo sobre o seu, os lábios dela tocando a sua boca, descer-lhe pelo pescoço, peito, barriga... Queria senti-la em sua alma. Não. Não podia. Estava na hora de ir embora, voltar ao mundo real.
Brincaram um pouco mais. Não pôde deixar de ver que ela tinha uma tatuagem bem abaixo do umbigo. Um anjinho, meigo, carismático, esfuziante. Quis perguntá-la qual o significado; perguntá-la se tinha gostado; saber quando poderiam se encontrar novamente. Não teve tempo; já estavam batendo na porta, havia acabado o seu tempo. Tirou o dinheiro do bolso e a entregou. Vestiu-se e saiu porta à fora. Em casa sua mulher o esperava com o jantar e um barrigão de oito meses.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A LOIRA QUE CAIU

     Era uma loira. Bonita, cabelos lisos e longos; de pele macia e traços bem feitos. Vestia um vestido preto, curto e com um grande decote à frente. Usava sandálias de salto, talvez com a intenção de aumentar ainda mais a sua beleza. Não era alta, tinha uma estatura mediana; os olhos eram azuis, de um azul cor de água, chamativos e provocadores e tinha um olhar morteiro, feito o olhar de Capitu. Os lábios eram carnudos e, quando sorria, mostravam uns dentes alvos e belos. Era como a mais bela poesia Romântica.
     Da loja de baterias, olhava eu aquela cena. Sentado junto ao balcão; teclando ao Twitter, parei de súbito, olhando aquela cena perfeita. Vinha ela em minha direção. Talvez viesse em busca de uma bateria; ou, quem sabe, viesse em busca de um amor. Tentei desviar o olhar, pensar em coisas irreais, divagar por outros mares. Esqueci o Twitter e os amigos, esqueci a vida e deixei-me ali a contemplá-la, feito fosse uma miragem que passava a minha frente.
     Caminhava  como se desfilasse sobre uma passarela, altiva, encantadora, dona de todos os seus domínios. E eu alí, contemplando-a, pensando bobagens, sonhando poesias. Pensei em levantar-me, ir o seu encontro, chamá-la para uma pizza, um chopp, um passeio ao parque. Não. Fiquei sentado em meu canto, com o coração aos pulos; quando de repente, um susto. A moça loira e bela caiu. O salto que a carregava enganchou em um bueiro e a pobre musa despencou ao chão.
     Levantei-me e fiz menção de ajudá-la, quando, outro susto, junto à porta chega a minha esposa. Sentei-me novamente e comecei a assoviar. Ao ser indagado por ela se não iria ajudar à pobre moça, apenas respondi, como se não a tivesse visto:
     - Tudo culpa do Lacerda!


Crônica em homenagem ao meu amigo CHELONI.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

SOBRE LUÍZA (ONDE ESTIVER)

     A Luiza já voltou do Canadá ( Ou seria Austrália?). Já até deu entrevista pra "Toda poderosa" Globo. Ficou famosa e certamente, se fosse maior de idade, posaria nua naquela famosa revista de MULHER PELADA. Não, por aqui ninguém faz isso. Nem vai ao Canadá nem posa sem roupa. Por estas paragens se vai à missa aos Domingos e durante a semana fica-se em casa assistindo às maldades de Tereza Cristina e os estupros do Big Brother. Ninguém conhece, por aqui, a tal Luiza. Também não a conheço.
     Poucos são so que possuem internet, ainda andamos a cavalo e de bicicletas. Acho que ninguém ainda tenha andado de cruzeiro. O único Cruzeiro que conhecemos por cá é o de Belo Horizonte e que, por sinal, anda até mal das pernas. Não, ninguém conhece a Luiza que estava no Canadá ( ou seria Austrália?). É; as crianças ainda brincam de bola, se meninos, e de boneca, quando meninas. Não, esse tipo de menino não tem por aqui. E se tiver ainda não saiu do armário.
    Quem sabe. Pode ser que sim ou que não. Mas talvez. O que se tem aqui são indivíduos pobres que posam de bacanas. Agora, rico ou pobre... Sabe-se lá. Famoso não. De vez em quando estoura um... Cantor, escritor, pintor. Mas passa logo e tudo volta ao normal. Não; não conheço a Luíza ( ou seria Luzia?) e, pra falar a verdade, tenho raiva de quem a conheça!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O VENDEDOR AMBULANTE

     O Arnaldo ainda não voltou com sua esposa e, para tentar esquecê-la, ou, quem sabe, para chorar suas mágoas, passa boa parte do seu tempo no boteco do Eguimar, sobre um copo de cachaça, jogando sinuca, ou sentado junto à porta, conversando fiado. Quando não está no boteco, o apaixonado vem a minha casa para falar um pouco de sua amada.
     Hoje chegou cedo, mas já com o bafo de cana no bico. Sentou-se no banco, junto à velha mesa de madeira rústica, herança do meu avô; pediu um pouco de café e pôs-se a comer do bolo de fubá que estava sobre a mesa, pois tínhamos acabado de tomar o lanche da manhã. Por um longo tempo não disse nada; ficou quieto, com o olhar distante, como se refletisse algo importante, enquanto mastigava displicente o pedaço de bolo.
    Eis que, de supetão, soltou as ideias:
    - Vou vender roupas! Virarei vendedor ambulante; andarei de cidade em cidade e nunca mais, juro, nunca mais, aquela cadela há de me ver novamente!
    Pensei um pouco.Olhei pausadamente para o semblante do homem. Estava visivelmente triste, a pele enrugada, os olhos cheios de lágrimas. Podia tê-lo tirado a ideia da cabeça, tentado dissuadi-lo daquela loucura. O pobre diabo não sabia vender nem gaiola para passarinho, vê lá se venderia roupas! Não disse nada. Levantei-me; fui até a estante; peguei a garrafa de caninha, tomei um gole e degustei, era da boa. Coloquei uma dose da branquinha e lhe ofereci. A história do vendedor que ficasse pra outra hora!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

DE AMORES E DORES

        O Arnaldo brigou com sua mulher e chegou em casa chorando. Para falar a verdade, até que senti pena do coitado. Sentado no velho banco de madeira, os braços apoiados na mesa pelos cotovelos e o queixo pousado sobre as mãos fechadas, log via-se, estava demasiado triste.
        Não, eu não sabia como agir. Não queria dar motivos. Conheço bem o Arnaldo e sei que se começa a bajulá-lo, logo tomaria conta da casa. Também não poderia agir com rispidez, afinal, o pobre diabo estava sofrendo e, alé do mais, dores de amor são um incômod terrível!
        Fui até a estante. Peguei da que vinha com remédio. Amarela, com cheiro forte e alguns resíduos passeando para lá e para cá. Balancei a garrafa para fim de misturar um pouco. Oferreci:
       - Toma uma comigo, amigão?
       Não disse nada. Nem me olhou. Botei uma grande no copo. A  pinga parecia chamar, pedia que lhe tomasse de um gole só. Por isso tomei-a. Enchi outro copo e já me preparava pra bebê-lo. Quando ele me interrompeu:
       - Essa eu bebo, cumpade. Mas não por causa da cadela. E sim pela nossa amizade!



CORAÇÃO DE JESUS, 16/01/2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A VOLTA E O FIM DO MUNDO

         De volta, em plena sexta-feira 13. Depois de férias forçadas, aqui estou novamente a fim de retomar o velho posto, neste ano de fim de mundo. Fim dos tempos, das eras, de tudo... Será? Muitos começarão a tecer argumentos e a planejar tangentes por onde possam escapulir; outros, mais temerosos, começaram a rogar o perdão dos seus pecados.
          Sinceramente, ainda não parei para refletir o assunto, mas pode ser que eu fuja ou, quem sabe, reze como os outros. Por enquanto, continuo meus debaes e devaneios. Aproveitemos, pois, este tempo- e o espaço - para pensar, discutir e criar hipóteses para que possamos, de fato, chegar a um denominador comum.
          Não há, pois, de haver restrições. Continuarei contando poesias, escrevendo contos, viajando por mares nunca dantes navegados; não obstante, falarei de política, de cultura, de esporte, de coisas úteis e fúteis - desde que nos tenha qualquer valia. De fato, comunicaremos - todos nós.
         Que venha o novo ano. Com progressos, com erros e acertos, com devaneios, loucuras; com vida. Façamos deste ano um espaço para interagirmos, criarmos novos caminhos a serem seguidos, com cragem de agir e reagir, afinal, somente a nós cabem as ações para construirmos o nosso futuro.

Um abraço e os mais sinceros votos  de feliz ano novo aos amigos do Twitter.com/@elismarsantos, o Orkut e do Facebook. Estamos juntos!