O sol nem saiu, mas as crianças já descem
para a escola. Do alto de uma árvore alguns pássaros observam a cena, receosos
de que algum menino os veja. É sempre a mesma coisa: um enxerga o pássaro entre
a copa das árvores e joga a primeira pedra; depois, os outros completam a balbúrdia.
E os pássaros saem em
disparada. Mas eles sempre voltam e, de manhã, observam as
crianças que descem à escola.
Um passarinho parece viajar naquele
momento e, viesse uma pedra em sua direção, nem mesmo haveria de negar dos
ataques infantis. De certo que é um pássaro ambicioso, daqueles que querem estudar,
formar-se, ser alguém na vida. Mas pássaros não estudam, não nas nossas
escolas. Deve existir alguma escola de passarinhos... Ou será que eles aprendem
em casa mesmo, com a mãe lhes pregando a lição?
As crianças descem em algazarra rua
abaixo. Os pássaros ficam de sobreaviso, nenhum pio ou movimento mais brusco. Admiram
a cena, mas, receosos do que estar por vir, preparam-se para a fuga. O
passarinho não. Do seu canto, enamora todo aquele movimento; a criançada
descendo uniformizada, com as mochilas nas costas, os cabelos penteados e uma
luz abrindo-se à frente.
O passarinho quer ser gente; assentar-se
nas cadeiras da sala de aula, conversar com os coleguinhas de classe, brincar
de pique na hora do recreio. E uma profunda tristeza toma conta do seu peito.
Ele não queria ser pássaro. Não lhe interessa voar, ver o mundo lá de cima. Queria
mesmo era poder ler as coisas que as crianças lêem, viajar pelo mundo dos
livros, escrever historinhas fantásticas, como as que ouvia a avó do Pedrinho
contar.
As crianças descem rapidamente pela rua. Até
que um menino com sardas nas bochechas vê os pássaros nas árvores. A primeira
pedra chega rápida e todos voam. Todos, menos o passarinho que, absorto em seus
pensamentos, não vê a pedra que vem em sua direção. Tudo escurece, a dor é
imensa, mas ele sonha, enquanto uma forte névoa toma conta dos seus olhinhos. E,
por fim, ele adormece.