“Você
viu a briga de ontem?!”
“Vi
não. Eu estava trabalhando.”
“Cara,
você perdeu. O trem foi muito doido.”
“Ahn.”
“Não
sei como começou. Eu estava chegando da rua, quando ouvi aquela barulheira
toda. Não quis ficar perto, que era pra não sobrar pra mim. Entrei, me encostei
no pé do muro e fiquei só na espreita”.
“Pois
é”.
“Cara,
a coisa foi violenta! Só sei que o cara chegou com uns papos de bêbado, meio
que cambaleando, com a voz arrastada, falando mais alto do que devia. Depois,
chamou a mulher para sentar junto de si no banquinho bem de frente aqui de
casa. Ela não quis, mas o cara era muito insistente.”
“Estou
com pressa; tenho que ir buscar a mulher no médico...”.
“Mas
você não sabe o B.O. que a insistência deu, maluco! O namorado dela estava do
lado, só escutando, ainda não tinha entrado na história. Foi aí que ele perguntou
pro bêbado ‘O quê que você tá querendo com ela?! Você não vê que ela tá
comigo?! É a minha namorada! ‘... Mas o bêbado não se fez de rogado e soltou a
pérola ‘deixa de ser besta, moço; ela não é sua, ela é de todos nós’. E foi aí
que o bicho pegou, bem no meio da rua!”
“Pois
é, velho. Muito interessante a história, mas tenho que ir mesmo. Estou atrasado
para buscar a mulher no médico. Ela deve estar estressada já. Depois a gente se
fala”.
“Tá
bom, então. Ah, dá um abraço nela por mim. E fala que desejo melhoras”.
“Mas
ela não está doente, foi apenas acompanhar a irmã grávida, além do mais, que
intimidade é esta, para ficar mandando abraços assim?!”
“Calma,
irmão. Não seja tão egoísta, você sabe que ela não é só sua...”
E
foi assim que tudo recomeçou.