sexta-feira, 12 de novembro de 2010

PRIMEIRAS PÁGINAS DO LIVRO "ALIMENTANDO A ALMA"

MANUFATURAS

A poesia, o pó, o giz.

A veloz máquina
Corta a estrada.

Monossilabicamente
A máquina anda.

Estranhamente
Sinto o tempo passar.

Não só o tempo passa:

Passa o ônibus
Passa a poesia
Passa o sonho

E a vida passa

Como se tudo fosse
Milimetricamente
Um passe de mágica.

Elismar Santos Luís Pires de Minas, 12/03/2009




O POEMA MAIS ANTIGO

Uma chuva mansamente
Feito um abraço materno.

O carrinho de bois de barro
Cortando o barro preto da terra.

Um olhar eterno para o além
Sobre o caixão e a cama prostrada.

O cavalete plantado sob a goiabeira
E os dois dependurados na brincadeira.


Elismar Santos Montes Claros, 24/03/2009


COMPRE JÁ O SEU!!!
O livro de poesias do Elismar Santos

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

VAZIO

VAZIO

Um velho fogão de lenha
Com lenha seca e velha
Pra esquentar o feijão;
Uma velha de lenço
Pra tampar os algodões
Em sua cabeça;
Lá fora o sol a pino;
Ao longe uma nuvem
Acinzentada pela poeira
E a fumaça que sobe dos
Fornos;
Na velha cabeça sob o lenço
Uma tristeza profunda
Vagueia em busca de um
Horizonte,
Em busca de um sonho,
Em busca de uma vida que
Sempre quisera
E não fora
Não fora.


Elismar Santos, 25/10/2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

CARVOEIRA

CARVOEIRA

“Eu já não cria que existisse mais”

Muito era tarde demais.
Na cacimba, uma jia filtrava a água ;
Antônio cortava lenha nos eucaliptos
No meio de onças , cobras, cabras e
Passarinhos e outros tantos bichos;
Um litro de pinga tilintava geladinho
Na anca fria de um triste cupim.
Quanto dó eu tinha de Maria,
Na beirada do fogão
Até o cair da noite
Molhando a barriga negra na bacia
Até que a tarde caísse
Se dando no jirau duro e barulhento
Até que raiasse o dia
Sonhando um horizonte todo azul
A cada serviço que fazia.
Já disse que muito era tarde demais...
Na cacimba gota d'água não mais tinha;
O fogo a lenha queimou;
Antônio, a onça comeu ;
Os bichos, a seca matou ;
Maria (quanto dó eu sentia),
De tristeza, pra vida morreu.

Elismar Santos Montes Claros, 25/05/2004

vem aí o terceiro livro de elismar santos: poesias, alimento para a alma.
aguarde!!!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

domingo, 19 de setembro de 2010

BELO HORIZONTE

BELO HORIZONTE


Final de semana passado estive em Belo Horizonte. Passeei pela Afonso Pena, pela Bahia, Amazonas; tirei fotografias na praça da estação; fiz compras no Oiapoque; Admirei o prédio do Conservatório; viajei pelo centro de BH e, indescritivelmente, pelo passado de Minas.
Para muitos a capital mineira é apenas mais um ponto de compras, com roupas, sapatos, bolsas e outros produtos a preços módicos. Para este cronista aquela cidade é o símbolo da boa Literatura e música de qualidade, o ponto de encontro entre a tradição e o moderno, com um jeitinho mineiro de ser.
Um colega de quarto com um nome diferente – Menderson- foi quem deu a deixa: “Em toda esquina que se vai nesta cidade, logo se vê um boteco”, eis o espírito boêmio de nossa Capital. Boemia que se transforma em poesia, em prosa, numa dose de pinga e um bate papo tranqüilo com alguns conhecidos.
E pensar que pelas ruas que humildemente passei, passos ilustres foram dados por Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, e vários outros escritores, todos com os pensamentos em intensa ebulição, às voltas com um personagem, uma cena, uma ideia louca para se jogar numa folha de papel e ganhar vida eternamente.
Subi a Rua da Bahia, desci a Amazonas, fiz o caminho inverso, refiz todo o itinerário e, a cada volta que dava, maravilhado, notava que todos os escritores mineiros caminhavam comigo. Todos juntos, cheios de ideias, cheios de vida.



Coração de Jesus, 13/09/2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

FELICITAÇÕES E PENSAMENTOS

É interessante como os tempos mudam. No meu blog tem uma estatística que, acho, somente eu posso ver. Lá fico sabendo, por exemplo que pessoas do Canadá e dos Estados Unidos leem minhas crônicas. Que maravilha!Quem diria que um pequeno escritor de Coração de Jesus, escondido entre as serras norte-mineiras, longe do mar, nunca tendo viajado de avião, nem mesmo ultrapassado uma distância maior que mil quilômetros de sua terrinha pudesse ter seus textos lidos por gentes de outras paragens, melhor, internacional?!!
Enfim, estamos na era da globalização e, por isso, tudo é possível. É uma pena que essa, dita, globalização, ainda não seja capaz de garantir o sustento de um escritor simplesmente por seus escritos, acabar com uma guerra, promover a igualdade entre todos os seres humanos.
Por enquanto, contentemo-nos com as prazerosas leituras de leitores de outras plagas, de outras línguas, mas com ideias tão joviais e futurísitcas, embora, às vezes, saudosistas e, mesmo, nostálgicas, como as destes que vos ecreve.

Um grande abraço do poeta!!!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

AINDA MARIA


AINDA MARIA

As palavras são, verdadeiramente, seres frágeis que se desfazem junto ao vento diante da primeira investida de algum antigo sentimento. Eu disse que não falaria mais de Maria. A luta foi árdua e durante algum bom tempo consegui vencer a tentação de relembrá-la nestas poucas linhas. Sofri; certamente que tenho sofrido com as lembranças, e, o que é pior, com a relutância em dizê-lo a você, caro leitor.
Ontem a vi. Estava bela, vestida de forma simples, sem qualquer maquiagem ou exageros que marcam as mulheres de nossos dias. Não estava acompanhada, nem parecia entristecida; contrariamente, sua beleza fazia irradiar-se por todos os cantos em que passava e o que se sentia era uma alegria incontida, o que se mostrava no seu sorriso e em sua pele descansada.
Maria não me viu, nem tive coragem de mostrar-me a ela. Estava eu entristecido, cheio de rugas, de rusgas; cansado da imensa tristeza que me tomara desde o momento em que ela saíra de minha vida. Minto, ela não havia saído; continuava em mim, nos meus sonhos, nas minhas recordações, no meu choro diário; minha doce e meiga Maria se fazia transparecer, duramente, nas tantas rugas que se criaram em meu rosto.
Tive vontade de ir ao seu encontro; dizer-lhe do meu amor, dos meus sentimentos, da tristeza que toma a minha alma; quisera eu atravessar a rua, ajoelhar-me aos seus pés e suplicar a sua volta, o retorno incomensurável do seu amor. Não pude, faltou-me coragem, sobrou-me o pouco orgulho que ainda me resta.
Vendo-a repleta de beleza e alegria, ajuntei os meus cacos, recolhi toda a tristeza que caía de mim, em forma de lágrimas, e parti. Ao longe, com o coração em sobressaltos, ainda podia sentir o seu cheiro e toda a alegria que o acompanhava e, enquanto eu andava, o sorriso de minha doce e meiga Maria penetrava os meus ouvidos fazendo com que as lágrimas regassem minhas tristes rusgas.


Coração de Jesus, 27/08/2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

BRINCADEIRA DE CRIANÇA

BRINCADEIRA DE CRIANÇA


Quando ela entrara no quarto, sozinha, ninguém prestou atenção; o problema foi ela sair do quarto. A porta trancada por dentro não tinha chaves reservas e, por mais que tentasse, a pobrezinha não conseguia dar as duas voltas necessárias para que a ela se abrisse.
O tempo passava e a mãe enlouquecia. Os sentimentos se confundiam; primeiro, tentava acalmar a criança, para que não chorasse nem entrasse em pânico; depois, começavam as promessas de uma merecida sova, como pode uma criança entrar num quarto, sozinha, e trancá-lo por dentro! Eo pior, depois não conseguir abrir a porta!
Os olhos da mãe enchiam-se de lágrimas. Ela- a mãe- estava pálida, trêmula, receosa de que algo acontecesse com seu anjinho. Todos tentavam acalmar a criança, enquanto a mãe continuava a desesperar-se recostada junto à porta chamando pelo nome da menina.
As tentativas foram todas vãs. A janela estava fechada; travada por causa do risco de ladrões; a chave ficara inclinada, o que não permitia que a menina a retirasse de lá. O tempo passava, já era noite, uma noite fria de sábado, sem lua e sem graça nenhuma.
Por fim, uma solução extrema: chegara a hora de chamar o chaveiro. O homem não vinha e mãe quase tendo um ataque cardíaco; mais um pouco e arrebentaria a porta (do quarto ou do coração.). O homem veio sorridente; abriu a porta com cuidado, enquanto a mãe conversava com seu bebê, bajulando-a e prometendo, ainda, a merecida surra.
A porta, como que num sopro de alívio, se abriu. A mãe, já sem um pingo de sangue nas veias correu a abraçar sua pobre filhinha. As lágrimas corriam pelo rosto aliviado da mulher, quando a menina disse:
- mamãe, vamo brincar de novo!


Coração de Jesus, 28/08/2010

sábado, 14 de agosto de 2010

UMA CRÔNICA VELHA

UMA CRÔNICA VELHA


Acho mesmo que todos os nossos pensamentos dependem dos nossos sentimentos. Pode parecer óbvio, mas só reparamos isso, quando realmente acontece. Sempre passei por aquela rua e aquela cena sempre esteve presente, mas nunca a havia reparado.
A vendinha fica numa subida leve, próximo ao morro de Lourdes, em Coração de Jesus. Trata-se de uma vendinha velha com um velhinho dentro. É sempre a mesma coisa: a venda velha sem nenhum freguês e um velhinho do lado de dentro do balcão.
Poderia dizer que é uma cena triste, mas não se trata disso; antes, é uma cena histórica. Se olharmos por esse lado dá prá pensar: quantas e tantas vidas passaram por ali; quantas histórias foram contadas por algum indivíduo recostado àquele balcão; quantas histórias devem ter acontecido naquele recinto?
Aquela cena não reflete a sua verdadeira identidade. O velhinho não é apenas um senhor triste esperando a morte chegar. Tudo é uma grande conspiração. Uma conspiração histórica. Por que eu? Por que justamente eu deveria passar por ali e observar aquela cena? Será que nenhum outro cronista escreveu sobre aquele velhinho e sua velha venda?
Tive vontade de entrar, pedi um copo d’água e falar-lhe sobre essa conspiração. Não tive coragem, sou melhor com palavras escritas; enrolo-me com elas junto à língua; saltam da boca todas de uma vez, atrapalham-se, envergonham-me por completo. Melhor não. Continuei meu caminho, enquanto o velhinho, sentado detrás do velho balcão, parecia relembrar o passado. Ou será que imaginava o futuro?
Quantas histórias já não viram aqueles olhos cansados. Um dia talvez eu pare; entre e, depois de pedir um copo d’água, parabenize o velhinho. Por quê?! Por estar ali há tanto tempo; por manter viva aquela história... Sei lá... Talvez, por ter-me inspirado esta crônica velha.

Coração de Jesus, 14/08/2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SEGUNDA-FEIRA DE PREGUIÇA E POESIA


SEGUNDA-FEIRA DE PREGUIÇA E POESIA



Toda segunda-feira é sempre a mesma coisa. Se perguntassem a mim, diria, sem vacilar, que não deveria ter segunda-feira; por mim, pularíamos, de uma vez por todas, para a terça-feira. Mas, convenhamos, a terça também seria uma chatice só.
A ideia deste pensamento surgiu do fato de que hoje acordei com uma preguiça imensa de ir para o trabalho; afinal, sábado teve churrasco, ontem almoço diferente e, consequentemente, hoje seria o dia mais propício a uma boa preguiça. Fui trabalhar, mas a preguiça e os pensamentos sobre ela permaneceram durante todo o dia.
Contrariando o meu desejo de ficar deitado, curtindo a minha recente amiga, os serviços de hoje foram intensos, todo o dia de labuta, sem tempo pra uma cervejinha, uma conversa fiada ou mesmo um ficar-sem-fazer-nada apenas olhando o tempo passar.
Perambulando pela cidade durante uma parte do dia, olhava, invejoso, os tantos indivíduos que sentam-se à porta da rua todos os dias; cada um com suas reminiscências, seus pensamentos, seus desejos interiores. Quantos não seriam os que queriam um serviço, algo para ocupar o tempo, uma tarefa que lhes fizessem sentirem-se úteis.
Não sei se tenho sido útil, apenas sei que as tarefas me surgem como água, embora estas sejam tarefas próprias que não me trazem dinheiro ou recompensa financeira; mas, convenhamos ainda, como me deixam mais leve, mais tranqüilo, menos poeta.
Não. Não digo que os poetas são homens tomados pela preguiça. Contrariamente, são homens de labuta árdua, sôfrega e pesada. Que me diriam Drummond, Bandeira, Leminski; todos grandes poetas, incansáveis trabalhadores das palavras. Seres desprovidos de qualquer tipo de preguiça; indivíduos que, certamente, haveriam de discordar de minha proposta e diriam: “A segunda-feira é o mais belo dia para uma poesia triste e cadenciada.

Coração de Jesus, 09/08/2010

domingo, 8 de agosto de 2010

A MAIOR DECEPÇÃO

Era domingo, ela pediu a ele que fossem, ambos, ao parque; comeriam cachorro quente, deitaram sobre a grama, à beira do lago, aproveitariam todo o dia juntos. Ele não disse nenhuma palavra, nem que sim nem que não, apenas olhou-a fundo nos olhos e sorriu.
Era domingo, foram à missa; sentaram-se no banco da praça - o mesmo em que sentavam quando ainda eram namorados, adolescentes; tomaram sorvete e beijaram-se no meio da rua, como faziam antigamente.
Era domingo, ela arrumou-se toda para esperá-lo. Ele não veio. Ela não sabia, mas ele não viria. Ele Relembrara todo o tempo em que passaram juntos; tomara um banho e saíra de casa. No caminho, viu uma rosa, quis pegá-la para a sua amada.
Era domingo, e um carro desgovernado, dirigido por um bêbado, desfizera os planos do casalzinho. Haviam se casado fazia apenas uma semana. E ela, pobrezinha, espera, agora sozinha, um fruto desse grande amor!

Coração de Jesus, 08/08/201o

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

2º MINICONTO


2º MINICONTO


Era tarde. Pela porta da cozinha, apenas uma parede esverdeada. Nenhum vento que soprasse, nenhuma nuvem que voasse pelos céus, como se procurasse uma terra árida para descarregar-se sobre ela toda a sua vida. Para cortar o silêncio, apenas o pio de uma Rolinha que, calmamente, chocava seus ovos no cesto de pregadores. Enquanto isso, as roupas acumulam-se sobre o tanque.


Coração de Jesus, 06/08/2010

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

PARABÉNS, NORTE DE MINAS

PARABÉNS, NORTE DE MINAS!!!


Li hoje, num jornal de ontem, que, graças à BRILHANTE ideia de um deputado montesclarense, os 48% restantes da mata seca do norte de minas podem ser desmatados para o fabrico de carvão e coisas do gênero.

QUE MARAVILHA!!!

SÓ ESPERO QUE QUANDO ESTIVERMOS TODOS EM MEIO AO DESERTO NORTE MINEIRO,
SEM ÁGUA NEM COMIDA,
ESTE NOBRE DEPUTADO VENHA NOS SALVAR.


QUE VERGONHA, MEU DEUS!

05/08/2010

MINICONTO


MINICONTO


A noite caía lentamente e uma tristeza medonha tomava meu coração. Ingenuamente, um brilho apareceu; talvez numa música, numa dança, num sorriso de criança. A noite, que descia lenta e tristemente, encheu-se de uma luz e no céu apenas a lua me olhava com um sorriso complacente.

Coração de Jesus 05/08/2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

MENINO NO PARQUE


MENINO NO PARQUE



A notícia vem pelo som que um menino trás em sua bicicleta: “O parque está na cidade!” Não, não tinha nenhuma criança correndo atrás do som, também não havia qualquer criança nas calçadas com os olhos brilhando porque iria brincar no parquinho à noite, levado pelas mãos calejadas da sua mãe.
Apenas um menino observava aquela cena – os outros deveriam estar dentro de casa, assistindo televisão ou navegando na internet. Ele quis correr, ir atrás da bicicleta por toda a cidade, gritando, pulando, pedindo por um ingresso, talvez conseguisse algum para a Roda-gigante, para o tromba-tromba ou, quem sabe, para o Carrossel. Não foi; permaneceu imóvel sobre a calçada, apenas olhando o menino que passava montado numa bicicleta velha, com um som rouco, avisando: “O parque está na cidade”.
As lembranças vieram em sua mente, como almas surgidas de antigamente. Duas coisas chamavam a sua atenção: o parque e o circo. Não raramente, corria atrás dos carros, gritando e pedindo ingressos. Era uma semana todinha de expectativa, de alegria, de encantamento. Nos últimos dias (quando era mais barato) o pai dava o dinheiro e a mãe o levava e uma felicidade incomensurável tomava o seu peito.
O parque era o melhor lugar para brincar; o circo era onde se extravasava todas as expectativas da semana. Muitas vezes, junto de ambos, vinham também ciganos. Alguns eram ricos e usavam roupas bonitas e pomposas; outros eram bastante pobres e andavam pelas ruas pedindo algo para comer. Os pais, precavidos que eram, punham logo os filhos pra dentro, receosos que algum daqueles pudessem levá-los.
Um dia, quando a ciganada adentrava os limites da cidade, o menino correu para se esconder e deixou o portão de casa aberta. Uma cigana entrou, pediu o de comer e, enquanto a mãe punha um prato cheio para a visita inesperada, aquela enchia os bolsos com os talheres que estavam ao seu lado. O menino não disse nada, mas as lembranças permaneceram em sua mente.
O menino, com sua bicicleta, virou a rua; foi acordar outros meninos adormecidos. Aquele não adormeceu, sentou-se de frente o computador e, cheio de saudades, escreveu esta crônica.


Coração de Jesus, 29 / 07/ 2010

quarta-feira, 28 de julho de 2010


NO TWITTER


Sempre estivera acostumado a escrever textos longos. Nos tempos de faculdade, escrevia Artigos, Projetos, Monografias; depois, vieram as Crônicas, os Contos e, por fim os Romances. Sentia-se bem naquele mundo, gostava de escrever, sentar-se de frente a maquina e travar o costumeiro embate com as palavras.
Começara escrevendo pequenos, e mal feitos, poemas nos cadernos escolares, logo passara à maquina e, junto dela, veio o seu progresso: o jornalzinho da escola em que estudava, depois, o jornalzinho da faculdade de Letras, já na Universidade. Daí para as páginas de um jornal mediano apenas um passo.
Nunca passara do jornal mediano para o qual escrevia. Achava-se em seu lugar, tinha medo do grande público, por isso, melhor se contentar com o pequeno espaço que preenchia duas vezes por semana. Não tinha maiores sonhos, tirava um ordenado que, juntamente com o que ganhava nas aulas de Redação num cursinho pré-vestibular, lhe permitia gozar uma vidinha confortável, sem muitos exageros.
O tempo é o maior e mais temível inimigo dos pequenos escritores. Com ele veio o progresso. O advento do computador ocasionou o ostracismo e, por fim, o aposento da velha máquina de escrever; rapidamente criaram a internet, os sites, e-mails, os blogs e, o fim: os microblogs.
De início, vira-se obrigado a aprender manusear um computador, acostumara-se. Adaptara, também, aos sites, e-mails e aos blogs, afinal, o mediano jornal para o qual escrevia aderira ao uso de todas estas tecnologias, havia se tornado grande. Os funcionários, por sua vez, foram obrigados a aderirem à nova onda tecnológica.
O microblog não. Até ali não tinha reclamado. Mas isso não aceitava, não diminuiria uma linha dos seus textos. Aonde já se viu, sintetizar o texto ao ponto de se parecer com uma sardinha enlatada; isso não!
Ele não havia se dado conta, mas toda a sua vida estava mudada. Um dia, sentara-se à maquina de escrever e chegara à fatídica conclusão: estava ultrapassado. O jornal não era mais tão romântico como antigamente; escrever já não era mais um ato de prazer, sempre ganhara o seu dinheirinho com seus escritos, mas não o fazia por necessidade, era um prazer diário de sentar-se junto à maquina, inserir-lhe, cuidadosamente,o papel e pôr-se a labutar as palavras. Tudo agora era uma corrida contra o tempo, as pessoas não tinham tempo para grandes leituras e não havia mais a sensação de dever cumprido ao se fazer um texto perfeito, o mundo se modernizara e havia, por isso, profissionalizado.
Era uma manhã acinzentada. Fora, fazia um friozinho típico de julho. Contrariando seus hábitos, não foi ao Jornal; abriu seu notebook, acessou a sua conta no Twitter e, cuidadoso com o pequeno número de palavras, postou sua última crônica. Desligou o computador, vestiu seu casaco e saiu porta a fora. Nunca mais se teve notícias suas, desapareceu em meio à modernidade.


Coração de Jesus 27/ 07/ 2010

domingo, 25 de julho de 2010

UMA VELHA SENHORA


UMA VELHA SENHORA


Era uma senhora triste. Os cabelos tão alvos como uns algodoais. Não sabia nem mais quantas primaveras havia vivido; no entanto, estava convicta de que as tinha vivido da melhor maneira possível. Não pensava em morrer, mas aceitava que se ela viesse, quando viesse, seria muito bem recebida.
Um dia perguntaram a pobre velhinha sobre o que a fazia viver com tanta felicidade e, sobretudo, com tamanha intensidade. A velha, escondida sob o seu velho cachecol, não se atreveu nem mesmo a sorrir; timidamente falou: "Não sei responder a tão difícil pergunta, sei apenas que fui vivendo cada um dos momentos que foram surgindo a minha frente".
Um senhor de meia-idade, que se encontrava ali por perto, pôs-se a chorar. Vieram lhe perguntar pelo motivo daquele pranto. Ele respondeu que havia se emocionado com a alegria que aquela pobre velhinha demonstrava diante de uma vida tão longa e de um futuro tão curto, enquanto ele, na metade do caminho ainda não tinha vivido nem um instante do que poderia e com uma vida tão longa pela frente, não sabia nem ao menos aonde ir.
Sejamos como a velhinha: vivamos um momento de cada vez.

sábado, 10 de julho de 2010

domingo, 4 de julho de 2010

UM FÚTIL AMOR

Apenas um sorriso
e nada mais.
Isso foi a última coisa
que ele havia pedido;
incrédula
e cheia de malemolências
ela nem lhe deu atenção.

Virou-se abruptamente
como se ninguém lhe
houvesse dito algo
e partiu.

E nunca mais
em dia algum
se teve notícia
daquele fútil amor.

Coração de Jesus 04-07-2010

sábado, 3 de julho de 2010

Los Hermanos já estão NA ESTRADA com Galvão!!! Adios Los KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Eu disse no meu twitter que a seleção perderia. Errei nos números, mas, infelizmente, acertei no resultado final: estamos fora. Mas, é como dizem, tudo sempre tem um lado bom. ei-lo:

O DUNGA VAI SAIR DA SELEÇÃO........
ESTAMOS SALVOS...........


ABRAÇO!!!!!!

domingo, 27 de junho de 2010

UM AMOR IMPOSSÍVEL (ROMANCE)

Candidamente a chuva caía. A tarde parecia um velhinho sem pressa. Alguma vez passava um transeunte, sempre despreocupado, algum pensando bobagens, outro relembrando um fato a pouco acontecido, e, outro, ainda, sem pensar em nada, apenas andando, lentamente, como aquela tarde de dezembro.
Uma velhinha gorducha sentada em um banco de cimento, bem debaixo de uma grande árvore com copas recheadas de pingos da chuva, esses que sempre ameaçavam, mas, quase sempre, ficavam estagnados sobre as folhas compridas que mais pareciam uma velha canoa indígena toda pintada de verde; um velho careca, eternamente sentado em seu banquinho de madeira, sempre a reclamar da vida, ora do calor ora do frio, sempre relembrando o seu tempo “quando tudo era bem melhor que hoje” e um sujeito gordo, sem qualquer perspectiva, bebendo as suas bebidas cheias de álcool, e que um dia talvez o matariam, fumando seus cigarros repletos de nicotina, que sempre o tentavam findar...
Da sua janela, toda envernizada, coberta por uma enorme grade de ferro, o que deixava toda a casa com um ar de prisão, era aquela a paisagem que o escritor vislumbrava. Fosse ele um pintor de artes plásticas e gozaria naquele recanto todas as suas obras de arte. Naquela tarde monótona a visão era somente aquela, mas, em outros instantes, feito flashes fotográficos, era possível observar pássaros voando baixo, como se passeassem tranquilamente pela cidade, pousarem na grande árvore, como se quisessem, de verdade, posar para uma fotografia; tipos estranhos que todos os dias passavam por ali e deixavam um pouco de sua essência para que o escritor pudesse recriá-los nas páginas de um livro que, por ironia do destino, ou teimosia de alguma inspiração, teimava em manter-se recolhida dentro da fonte de criação.
Todo escritor recebe essa alcunha por ter escrito um livro, qualquer obra que seja, desde um simples livro de crônicas até mesmo um livro de contos, poesias ou um Romance; deve o mesmo ter simplesmente publicado um livro. Aquele, porém nunca escrevera qualquer livro em sua vida. Minto, escrevera sim, contudo, nunca o publicara. Certa feita, aquele indivíduo escrevera um Romance, pequeno, fraco, sem qualquer perspectiva de ascensão comercial ou literária, escrevera somente pelo prazer de colocar suas idéias numa folha de papel. Levara seis meses para escrever o Romance e, após terminá-lo, sem ter coragem de lê-lo, deu-lhe a um amigo para que o lesse e desse a sua opinião. Nunca obtivera o veredicto do primeiro e único leitor, contudo, desde então passou a ser conhecido na cidade como “O escritor”, o primeiro indivíduo do lugar a escrever um livro, ainda que sem qualquer publicação. Não é possível distinguir se nessa alcunha existe um quê de ironia ou verdade, afinal nunca se soube se o livro era bom ou ruim, na concepção do seu amigo leitor.
O escritor tinha um nome: Augusto Luís de Castro; morava solitariamente numa enorme casa, era professor de Literatura Brasileira e conhecia todos os grandes escritores nacionais, desde José de Alencar até os escritores contemporâneos, como Fábio Gonçalves, um poeta regional; Moacyr Scliar e Fernando Sabino. Conhecia toda a história literária do país e sempre trazia em mãos um livro de bolso para que pudesse exercer o prazer da leitura.
Apesar de todas as suas leituras e as imaginações que as mesmas lhe propiciavam, Augusto era um homem triste e solitário. Não era velho, tinha pouco mais de quarenta anos, mas era uma pessoa desgostosa, um tipo que a vida e a solidão trataram de moldar com toda a rabugice e manias dos mais idosos. Augusto era, assim, um velho homem de meia idade. Quase não saía de casa, fazendo-o somente nos casos em que era inevitável a sua perambulagem pela rua; não gostava de cumprimentar os vizinhos ou quem quer que lhe dirigisse um Bom-dia e, se o fazia, era simplesmente pela educação que tinha e pela qual muito prezava; não tinha qualquer apreço pelas crianças, sendo que as suportava somente por causa dos ossos do ofício.
Augusto Luís era um homem sem qualquer perspectiva de felicidade. Não gostava de nada que fazia, apenas sentia prazer com suas infindáveis leituras, desde sua adolescência não conhecia mais o sabor dengoso de uma boca de mulher, nunca havia transado em sua vida, não possuía uma vida social, era, de fato, um animal, um ser estranho em meio às tantas vidas que o cercavam naquela cidade. Aquela seria para ele somente mais uma tarde monótona, com uma chuvinha mansa, a velha gorducha no banco de cimento, o velho careca eternamente reclamando da vida e o homem gordo sempre bebendo e fumando, sem qualquer perspectiva para o futuro. Enquanto, da sua janela protegida por enormes grades de ferro, olhava a monótona cena decembral, Augusto Luís não percebeu, mas uma simples sombrinha que subisse a sua rua haveria de mudar toda a sua vida, se ele assim o desejasse.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SÁ LÚCIA


SÁ LÚCIA

Não sei de onde ela é, nem como apareceu na minha vida. Eu era ainda bem novo quando ela surgiu com sua negritude branca e sua incomparável inocência. Nem a própria sabia sua idade, dizia ter uns sessenta e dezesseis e cinco anos, mais ou menos.
Sempre vinha com seus passinhos lentos, arrastando os sofrimentos que os anos lhe incubiram de suportar; sentava-se numa cadeira velha de madeira – que parecia sempre estar à sua espera, naquele mesmo lugar – começava a puxar um assunto qualquer com minha mãe – assuntos desconexos – e, como que por um encanto, adormecia.
A sua casa era pequenina, não tinha reboco, não tinha muro, apenas uma cerca de arame farpado todo cheio de ferrugem e sacos plásticos e lixo... A casa de Sá Lúcia era o seu retrato – simples e sem luz.
Durante todo o dia perambulava pelas ruas catando sacos plásticos, gravetos e todo o lixo que achasse necessário. Não tinha filhos; dizia já tê-los possuído, não lhe restando mais nenhum dentre tantos.
Nos meses de junho e julho era um sufoco. A velha comprava uns rojões, acendia uma fogueira bem de frente à sua casa e, inocente feito uma criança, jogava toda a caixa de fogos dentro da labareda – era um “Deus nos acuda!”; um dia, porém, alguns rojões estouraram dentro da sua casa e não quiseram mais vender-lhe fogos tão perigosos; passou a comprar apenas traques para as fogueiras, mas a luz que brilhava em seus olhos ainda era a mesma .
Ela era uma criança, simples e sem luz. Mas, com uma sabedoria imensa, foi saindo de mansinho e,sem que ninguém percebesse, recolheu-se num asilo- ou exílio? – talvez na espera que, um dia, um de seus tantos filhos lhe venha buscar.

Coração de Jesus, 04/ 06/ 2010

sábado, 29 de maio de 2010

A MENINA

A MENINA


Não era uma menina bonita, também não era simpática. Era, de fato, uma menina comum. Não tinha ainda seus quinze anos, também não teria menos que doze, treze ou catorze anos.Não tinha os olhos azuis, nem verdes, nem muito pretos, eram uns olhos tomados por uma cor estranha, olhos que chamavam a atenção de qualquer transeunte pelo que não eram e não pelo que poderiam ser. Era uma menina simples, que não tinha nada de diferente ou que chamasse atenção... Minto. Seus olhos chamavam pelo que não eram. Tinha também um pequeno acessório. Usava-o na cabeça. Tratava-se de um pequeno capuz vermelho que usava para tampar o feio cabelo que trazia desarrumado sobre a cabeça. Seu nome - o da menina- era Chapeuzinho Avermelhado.
Na verdade, pra ser bem mais franco do que o necessário, o seu nome era Tosvaldina, mas convenhamos... Isso lá é nome que se ponha numa menina. Que se chamasse Marieta, Luzia, Helena, Beatriz, Solange... Mas, Tosvaldina não! Pois bem, Tó, ou Chapeuzinho Avermelhado, fazia jus ao nome. Era uma menina chata que só vivia às turras com sua mãe, uma velha senhora, que o mundo tratara de ensinar muitas coisas. Sua vida, até algum tempo depois do casamento, era uma verdadeira bagunça: mexera por muito tempo com drogas, bebia, fumava e trepava todos os dias. Perdoem-me os puritanos, mas, de verdade, mulheres fazem Amor, a mãe de Tosvaldina trepava. Fazia-o não porque sentia prazer, mas porque precisava sempre de mais dinheiro para comprar as suas drogas.
Tosvaldina, certa noite, após uma briga horrenda com sua mãe, resolveu fugir de casa e ir para a casa de sua avó. A mãe de Chapeuzinho saiu primeiro, foi à igreja fazer promessa para que a filha parasse de brigar com ela e, por qualquer motivo, espancá-la. A vida tinha mesmo ensinado à mãe de Tó como deveria ser a vida de um ser humano: era de casa para a igreja e da igreja para casa, virara uma mulher direita. Chapeuzinho, por seu lado, era uma criatura sem qualquer juízo. O pai fugira no mundo e nunca mais dera as caras; também, não fazia a mínima falta, era um cachaceiro sem- vergonha.
Chapeuzinho Avermelhado saiu de casa, enquanto a mãe rezava e pedia perdão pelos seus pecados. Não deixou nenhum bilhete, nem recado, nem um sinal de fogo ou fumaça, apenas foi-se para não se sabe onde. Não se sabe mesmo, pois, pensara em ir para a casa da avó, uma velhinha, dona de uma casa de acompanhantes afastada cerca de meia légua da cidade, no entanto, chapeuzinho nunca chegara em sua casa. A mãe não tivera qualquer notícia da filha, a avó também não ficara sabendo do seu paradeiro.
Na pequena cidade, onde todo mundo conhece um muito da vida de cada um, alguns dizem que ela foi comida pelo lobo mau, um animal feroz que vivia assustando as menininhas do lugar; outros afirmam de pés-juntos que ela achara um vagabundo qualquer e fora embora para bem longe dali. Há ainda aqueles que têm certeza de que o "coisa ruim" veio, pegou-a pelo chapéu e levou-a para as profundezas do inferno. A mãe dela, porém, reza todos os dias para que, onde Tosvaldina estiver, que esteja feliz e a tenha perdoado de todos os pecados que cometera. E,todos os dias, na mesma hora em que a filha fora embora de casa, a mãe de Tosvaldina chora as mesmas lágrimas, lágrimas de uma mãe triste e solitária.
Um abraço do poeta.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A MULHER E O DESEJO 2


A MULHER E O DESEJO

Quase quatro horas e o sono não vinha. Sentia uma sede intensa tomar a sua garganta. Não queria se levantar, preferiu ficar deitada, sentido aquela agonia dengosa. Suava enormemente, mesmo sentido um intenso frio na espinha. Imaginava o corpo de um homem deitado sobre o seu, rezava fervorosamente, como se quisesse pagar todos os seus mais escabrosos pecados. Havia se deitado coberta por uma camisola vermelha, agora se despira totalmente.

Não sabia o que fazer. Um conflito entre o céu e o inferno, o bem e o mal, o prazer e a reza, parecia existir dentro do seu peito. Queria se levantar, sair a esmo pelas ruas, tomar um banho, fazer um café, pular da janela. Ela morava num apartamento. Não tinha coragem, era feminina demais para fazer tal atrocidade consigo mesma. A maioria das notícias de suicídio é de homens, mulheres são inteligentes demais para tamanha burrice.

Revirava-se de um lado para outro. As horas não passavam e, no tenebroso silêncio que tomava toda a extensão do mundo em que ela se encontrava, entrecortado, não raramente pelos miados de alguns gatos se amando num telhado próximo, era capaz de escutar os ponteiros do relógio num agonizante tic-tac-tic-tac... Queria sonhar, sentir, queria morrer de prazer. Estava desesperada, tinha vontade de gritar, de ficar quieta, de arrancar os cabelos, de se jogar dentro da sua imensa agonia prazerosa.

A noite demorara passar. Não havia pregado os olhos por nenhum momento. Sentia-se cansado. Sentia um grande desejo de prazer que tentava sair de dentro do seu âmago, mas não conseguia. Quem dera se um homem chegasse de mansinho num belo cavalo branco e a possuísse como se fosse uma linda princesa grega. Ficou sozinha no seu canto revirando em sua cama, até que a campainha tocou. Levantou-se rapidamente, estava toda molhada. Talvez fosse o seu príncipe encantado. Lavou o rosto, trocou de roupa, não poderia sair daquela maneira, e foi atender ao príncipe encantado.

Não era o seu príncipe. Severino, o porteiro, avisava com sua voz estridente de nordestino maroto que Carmélia, sua colega de setor na empresa, estava esperando-a para irem ao trabalho. Seria mais um dia de muito serviço e nenhum prazer.

Um abraço do poeta!

sábado, 22 de maio de 2010

A MULHER E O DESEJO


A MULHER E O DESEJO 1


Três horas da manhã. O telefone emudecido e o tempo sem querer passar. Quem sabe sair, tomar um chope em algum boteco, passear pelas ruas vazias da cidade... Não. Não tinha vontade alguma. Deitada na cama de casal, ela revirava a cada instante em busca de um corpo quente para se aquecer, em busca de um peito cabeludo com o qual pudesse disputar um espaço naquela imensidão inescusável de solidão.
Tentava ao menos uma feliz recordação. Uma lembrança de algum corpo perdido que encontrara sobre o seu corpo nu, num tempo distante em que nem mesmo conseguia se lembrar direito. Nada. Apenas a solidão estava ao seu lado, às três horas de uma manhã fria, numa cidade grande, onde tantas coisas aconteciam, menos consigo mesma.
Virava de um lado para outro. Sentia suores, o corpo tremia, talvez não sentisse frio ou mesmo calor, mas, de fato, sentia coisas estranhas acontecerem no seu corpo. Tinha vontade de viver, de morrer; tinha vontade de sair e, ao mesmo tempo (estranho!), tinha vontade de ficar quietinha no seu canto.
Na verdade, o que ela queria mesmo era um homem. Que fosse um homem cabeludo, másculo, que a possuísse e a fizesse sentir-se mulher. Tinha mais de trinta anos e fazia muito tempo que não sentia um outro corpo junto ao seu. Pensou algumas coisas absurdas, teve vergonha, quem sabe nojo, daquilo que pensara; contorcera-se na cama, começou a rezar, como se tivesse cometido um grande pecado.
Era uma mulher direita que morava sozinha. Trabalhava todos os dias num bom serviço: ganhava bem, tinha uma vida tranqüila, mas fazia tempos que não era possuída por um homem. Quase quatro horas da manhã e ela ainda não conseguira adormecer. Lá fora uma gata miava forte, talvez pedisse socorro para os deuses dos gatos.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

COISAS MUNDANAS

COISAS MUNDANAS

Era uma vez...Toda história fantástica começa com esta expressão, no entanto, esta não é fantástica. Trata-se de uma mulher, talvez seu nome fosse Maria, Joana ou Lúcia. Morava num lugar distante, não tão distante que não se pudesse chegar. Não era casada, nem conhecera o corpo de um homem. Aquela era uma mulher casta, morava sozinha em sua casa, no meio do nada. Não tinha bichos para criar, não tinha nem um amigo imaginário, era realmente uma mulher sozinha no mundo.
Aquela mulher ia à cidade apenas uma vez ao mês. Nesse dia, pegava o dinheirinho mirrado da aposentadoria, comprava a feira do mês todo, dava uma passadinha na igreja, rezava por são Judas Tadeu (ela só conhecia esse santo) e, depois de realizadas essas tarefas, ia embora, a pé, sozinha, até sua casa. Não tinha medo, não sabia o que era esse sentimento. Ela recebia apenas um salário, gastava bem menos da metade e o que sobrava deixava guardado debaixo do colchão em que dormia.
Um dia, após fazer todo o trajeto que estava acostumada, aquela mulher ia embora para a sua casa. Na estrada um homem veio acompanhando. Não teve medo, talvez nem tivesse prestado atenção naquele homem que a seguia. Toda a população da pequena cidade vira aquela cena, não se preocuparam, não fizeram conta daquele fato. No outro dia, os principais jornais da região apresentavam em letras garrafais, na primeira página:
"Mulher, de aproximadamente, é encontrada morta em matagal próximo à pequena cidade. Segundo a polícia local, aparentemente fora estuprada e o bandido, ou bandidos, invadiu a sua casa e levou todo o dinheiro que a mesma guardava debaixo do colchão, aproximadamente 3.000 reais". A mulher nunca houvera sentido o corpo de um homem junto ao seu, morava sozinha e não se importava com coisas materiais.

domingo, 16 de maio de 2010

UMA PEQUENA HISTÓRIA

UMA PEQUENA HISTÓRIA



“Há mais coisas entre o céu e a terra do que imagina a nossa vã filosofia.”, o filósofo que disse estas palavras está mais do que certo. Com certeza era um daqueles sujeitos que viviam olhando os transeuntes em alguma esquina de uma pequena cidade. Não digo isto por experiência própria; se bem que já, por várias vezes me peguei sentado numa esquina qualquer, ou debaixo de alguma arvorezinha, ou mesmo à porta de um boteco, a falar peculiaridades de alguém que por ali passasse.
O interessante é que sempre tem algum sujeito que chega e diz “deixa eu lhe contar uma pequena história”. Sempre existe alguém que valha uma história. Em sua maioria são histórias banais, mas que por ser alheia tem lá o seu valor. Em um lugar pequeno então! Nem se fala! Sempre tem aquele sujeito que tem um causo de um outro para bisbilhotar e, o que é melhor, espalhar!!!
Não serve, este artigo, como crítica. Simplesmente, tem-se neste espaço o testemunho de um indivíduo que arranjou tempo para fazer esta observação!... Talvez eu também seja um desses filósofos; desses que ficam por aí a observar a vida alheia... Não. Creio que não. Talvez eu seja mesmo apenas mais um indivíduo, sozinho em meio a toda essa balbúrdia que toma conta deste mundo.
Ainda não chove no sertão. Mas, quem sabe, pode ser que um dia o sertão vá mesmo virar mar. Afinal, como diz o filósofo: “Há mais coisas...”

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A MALA

A MALA

Uma pequena casa bem no centro da cidade. As paredes pintadas à cal. Umas telhinhas velhas; duas janelas de madeira à frente, demonstrando toda a fragilidade daquela casa. Dizem alguns que a casa é a figura, a imagem metafórica de quem vive em seu interior. Pois bem, que assim seja: dentro dela morava uma pobre senhora. Mais de setenta anos; o corpo esquálido, fragilizado pela força do tempo e pela fragilidade da raça humana; os cabelos brancos cobertos por um lenço velho, o qual um dia fora extremamente alvo, mas agora trazia apenas o encardimento do passar dos anos.
Era uma cena triste o que se via ali: em meio às grandes construções, uma casinha velha e decadente com uma decadente velhinha dentro. Tentaram de todas as forma tirarem-na dali; não aceitou. Disse, a pobre senhora, que fora ali que nascera e naquele lugarzinho queria terminar os seus dias. Ameaçaram despejá-la, mas a ignorância não foi capaz de enfrentar toda aquela serenidade e força de vontade.
Ninguém nunca havia entrado naquela casa; por isso, ninguém sabia que dentro dela, bem escondidinha num cantinho, junto à porta da sala, havia uma mala sempre pronta à espera de uma longa viagem. Como ninguém sabia da existência daquele objeto, nunca lhe foi perguntado o motivo da mesma se encontrar sempre pronta e deixada naquele cantinho discretamente.
Um dia, serenamente, assim como vivera, a velhinha terminara os seus dias. Ninguém reparou no fato, mas a malinha sumiu. Ninguém sabia da sua existência, ninguém sabia o porquê da sua estada ali; mas, misteriosamente ela havia sumido junto com a pobre velhinha. Ninguém sabia, mas, ainda que soubesse, ninguém seria capaz de compreender que naquele objeto estavam guardadas todas as crenças de uma grande mulher.


ELISMAR SANTOS 10/09/2009

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O MENINO VOADOR



A história não conta. Não é interessante falar de uma história que não esteja situada num ponto da própria história. Mas, de fato, aconteceu. Não existia televisão. Ninguém nas redondezas do Sanharó conhecia o pai do avião; nenhum dos sertanejos, homens rudes e incultos, tinha namorado o vôo de um avião. Avistassem-no e preveriam o fim do mundo. Não se pode afirmar uma data, nada é possível que se prove, mas os pássaros, com toda certeza, já sobrevoavam o lugar. A vida do homem do sertão era difícil, os tempos eram cruéis, os sonhos eram escassos; a miséria era a companheira do homem do campo.
A avó, já beirando o rio da morte, dormia num quarto perto da cozinha; parecia gozar um sono tranqüilo, mas ele sabia do seu sofrimento, da sua angústia profunda, da sua imensa vontade de adormecer numa noite estrelada e nunca mais se levantar. O pai, que era um homem bom e trabalhador, alçou vôos maiores e foi morar com Deus, junto dos anjos e São Pedro, o seu santo de devoção. A mãe era uma mulher forte; às vezes ele parava e ficava olhando firme a sua face: parecia velha, cansada, um verdadeiro trapo; eram os restos de uma vida de sofrimento e desencantos. Ela trabalhava na roça, cuidava da casa, cuidava da velha adoentada e, todos os dias, ao sair para o trabalho e quando chegava de tardezinha, abençoava-o com um carinhoso beijo na testa.
A casa era velha, pequena e um tanto apertada: dois quartos pequenos, uma sala e uma cozinha; as portas eram escoradas com tocos ou lascas de lenha; o chão de terra batida era sempre coberto de folhas, fumo que a velha quentava na cinza para limpar as dentaduras e titica das galinhas que invadiam a casa em busca de restos de alimento. Desde a morte do velho nunca mais puderam comer um naco que fosse de carne; passavam por sérias necessidades e a mãe já estava por desistir da vida.
Geraldo era muito pequeno, mirrado, tinha os cabelos negros e uns olhos grandes que transmitiam uma imensa tristeza. Passava todo o dia sentado junto à porta da cozinha observando os pássaros que voavam nas árvores do quintal; eram pardais, papa-capins, pássaros pretos, canários e outros tantos cujos nomes ele desconhecia. Os papa-capins eram de extraordinária beleza, mas eram os canários que mais lhe chamavam a atenção, gostava de vê-los voando, era como se desfilassem no ar. O menino não era capaz de pensar tamanha comparação, mas, à sua maneira singela de refletir, os canários eram como uns bailarinos a dançarem numa pista de gelo; com leveza, graciosidade; uma arte inimitável.
A mãe acordava antes de raiar o dia, preparava o café, arrumava a casa e seguia para o trabalho na roça. Assim que os pássaros começavam a tocar a sinfonia musical da manhã, o menino se levantava, tomava o seu café e sentava-se junto à porta, onde permanecia até que a mãe retornasse para preparar o almoço. A avó passava o todo o dia deitada, ora desfiando as contas de um velho rosário, ora conversando com os espíritos, contando casos de muito tempo passados.
Ele gostava de observar o vôo das aves, achava-o muito bonito. No começo, quando se entendeu por gente, observava-lhes apenas a beleza dos vôos, não pensava, não imaginava, apenas olhava àquela cena como um mero espectador. De uns tempos, porém, uma idéia andava martelando a sua cabeça: por que os pássaros voam? Daí surgiam várias outras questões: Para quê ? Para onde? Como... Como é que um bichinho daqueles podia voar tão rápido e numa altura tão grande? Às vezes parecia que ia enlouquecer, começava a matutar aquelas perguntas e não conseguia mais parar de pensar, até que sua cabeça doía e ele começava a chorar. Uma grande agonia tomava conta do seu coração, um vazio fazia a barriga doer; o menino sofria então ele corria e pulava dentro do rio para poder se refrescar.
Geraldo não tinha coragem de contar o que sentia para a sua mãe; quase nunca conversavam de verdade, a não ser quando ela o quisesse reclamar ou passar alguma orientação. Um dia, quando a mãe estava para a roça, foi até o quarto da avó; a velha parecia dormir, tinha os olhos fechados e a boca estava semi-aberta, como se quisesse roncar mas não tivesse ar para completar o movimento, não lhe saía barulho algum além do habitual ronronar sôfrego que mais parecia um último suspiro. Chegou bem junto da cama, balançou um pouco o abdome da velha e, vendo que estava acordada, perguntou:
-Vovó, por que os pássaros voam?
A avó parecia pensar um pouco antes de responder, se bem que nem mesmo ela sabia. O menino gostava muito da velhinha e a via como a pessoa de maior sabedoria na face da terra, talvez pelos cabelos embranquecidos, talvez por seu rosto enrugado. Ele era muito pequeno e não era, ainda, capaz de distinguir velhice e sabedoria.
– Ora, meu filho, é porque os pássaros têm pena.
O menino tinha pensado nessa hipótese, mas achava simples demais, ademais, as emas também têm penas e nem por isso são capazes de voar. Mas a avó era muito inteligente e, com certeza, tinha toda a razão.
- Quer dizer, então, que se eu pegar umas penas e colar no meu corpo eu também posso voar?
A velha não tinha idéia de como responder àquela pergunta do neto. Nunca tinha pensado no assunto. Talvez pudesse dar certo; mas por que, então, as galinhas não voavam? Quem sabe pudesse haver uma técnica especial, senão, só servissem penas de passarinho voador...
- Olha, meu filho, qualquer um pode voar. É a coisa mais fácil que existe, basta ter técnica e usar asas de passarinho, que são mais leves e tão forte quanto às penas de galinha.
- Será que palha de arroz serve vovó?
Mais uma vez a velha não sabia o que responder. Virou a cabeça para o lado e começou a pensar; nunca tinha pensado nesta hipótese, nunca tinha pensado em gente voando como passarinho. Tentou imaginar duas asas de palhas de arroz; uma armação de arame; um saco de estopa; linhas fortes.
-Pode ser. Eu acho que agüenta...
Antes que ela pudesse terminar, o menino saiu em disparada para o quintal. Tinha de começar os preparativos; logo, se conseguisse todo o material que precisava, faria o seu primeiro vôo e poderia sentir a mesma liberdade que os pássaros sentem.
A mãe estranhou quando, ao chegar da roça, não avistou o menino sentado junto à porta; perguntou à avó sobre o seu paradeiro, ela disse não saber de nada, a cabeça andava fraca e nem mesmo o que havia se passado a cinco minutos a velha seria capaz de recordar. Já era noite quando o menino apareceu em casa. Ao ser indagado pela mãe sobre o seu desaparecimento, disse que tinha passado todo o dia na beira do rio inventando e que no outro dia teria que voltar para que ele lhe ensinasse algumas técnicas. A mulher não entendeu nada do que o filho queria dizer, mas despreocupou-se, eram apenas maluquices de criança.
Durante os dois dias seguintes os fatos se sucederam: o menino saía de casa pouco depois que a mãe seguia para o trabalho. No primeiro dia tratou da construção das asas; nos outros, repetia a mesma cena: corria batendo os braços, como se fossem asas e pulava no rio. Era uma tarefa árdua, mas ele sabia que a recompensa logo chegaria.
Finalmente o grande dia havia chegado. Pegou as asas e com elas sobre os ombros seguiu para casa. Era domingo e a mãe não trabalhava, queria fazer-lhe uma surpresa. Chegou na ponta dos pés, escondeu as asas a um canto da parede , sentou-se junto à porta e pôs-se a observar a paisagem. Não dava para pular de nenhum lugar, a não ser que saltasse da mangueira, mas de lá não poderia correr, tomar impulso. Geraldo ficou algum tempo pensando, até que chegou à conclusão: “É de lá que os pássaros voam, sem correr, sem ter qualquer força para impulsioná-los”. Pegou novamente as suas asas, vestiu-as e com toda a dificuldade subiu a mangueira até o galho mais alto da árvore. Sentiu um friozinho na barriga, estava com medo, mas pensou na alegria que a sua mãe sentiria ao vê-lo voar, pensou na liberdade que, até aquele momento, somente os pássaros desfrutavam.
Antes de pular, com as asas nas costas, gritou por sua mãe, que estava na cozinha e pediu:
-Bença, mãe!
A mãe não teve nem tempo de abençoar o filho.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

OS MENINOS E A BOLA

Naquele tempo é que era chuva! As águas caíam sem dó nem piedade, mesmo. Não tinha problema, brincávamos na chuva. Nessa época, a porta de minha casa já era asfaltada, então íamos brincar na rua de baixo. Um bando de moleques correndo atrás de uma bola.
No início era bola de meia, quando tinha meia, se não valia bola de plástico mesmo, pegava-se um punhado de plásticos velhos e, como num passe de mágica, eis uma bola! Não, não pegávamos resfriado. Não me lembro de qualquer gripezinha por causa dos jogos sob a chuva... Pra falar a verdade, não me lembro de doenças durante a infância. A não ser algumas arrancadas da cabeça do dedão do pé – mas isso era a prova de que jogávamos bola na rua...
As brigas eram inevitáveis, mas eram brigas de meninos: um empurrava de cá, outro revidava de lá, até que um mais vantajoso vinha e dava o sinal:
- quem for mais homem, cospe aqui! – O mais adiantado dava a cusparada e a zorra estava armada. No outro dia, estávamos todos lá, brincando de bola de novo.
Não tinha esse negócio de tênis, o pezão ia de encontro ao chão, sentindo a terra molhada dos dias de chuva ou o ardor encardido de um dia de sol. Os pés eram cascudos, rachados, sujos, mas eram pés de jogadores, pés pequenos de grandes homens que se criavam correndo atrás de uma bola.
Não, não saiu nenhum grande futebolista daqueles jogos, nem doutores ou políticos. Na verdade, ninguém saiu. Até hoje, quem passar por aquela rua numa tarde de chuva, se ficar quietinho escutando, é capaz de escutar os gritos daqueles moleques e a harmonia dengosa da bola correndo pelo asfalto. Quicando, quicando...







CORAÇÃO DE JESUS 23/02/2010

domingo, 2 de maio de 2010

GALO CAMPEÃO MINEIRO 2010!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AS MARIA DO CRUZEIRO NÃO PASSARAM NEM PERTO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

HAIKAI V




P/ Rubens Fonseca


Este livro aberto
Não conta nem metade
Da vida que esperei.



Coração de Jesus

A DESCOBERTA


GRANDES DESCOBERTAS

ELISMAR SANTOS

Antes que comece a ler está crônica, vai até a janela e, por favor, dá uma olhada no tempo. Veja direitinho. Vai chover?
Tudo bem. Não se preocupe, estou apenas testando a conjugação do meu imperativo, afirmativo e negativo. Tudo isto porque durante esta semana aprendi muita coisa. Sim, aprendi muita coisa! Como ?! Dando aula (ou, talvez vendendo aula) e prestando atenção no que se passa ao nosso redor. Eis algumas descobertas:
. A vírgula é de grande importância no nosso dia-a-dia, pois se não a usarmos de forma adequada podemos perder todo o sentido de uma frase, de um texto, quiçá de nossa vida;
. O adjunto adverbial, quando no final da frase, não pede a vírgula; no entanto, se deslocado do seu habitat natural, não consegue viver sem ela;
. Carpe Diem não é uma filosofia vã e sem fundamento, contrariamente, é o correto aproveitamento de cada instante, com responsabilidade e objetividade.
O que temos até aqui são apenas descobertas escolares; o mais importante, aparentemente, muitos ainda não são capazes de compreender: Secas intensas, terremotos avassaladores, chuvas catastróficas, frios insuportáveis, o derretimento das geleiras polares, o efeito estufa... Será que a natureza não está nos dando algum aviso importante?
Mais uma vez, por favor, vai até a janela e, por favor, dá uma olhada no tempo. Veja direitinho. Vai chover?

Um abraço do poeta!


Coração de Jesus

sábado, 1 de maio de 2010

GRANDES DESCOBERTAS

GRANDES DESCOBERTAS

ELISMAR SANTOS

Antes que comece a ler está crônica, vai até a janela e, por favor, dá uma olhada no tempo. Veja direitinho. Vai chover?
Tudo bem. Não se preocupe, estou apenas testando a conjugação do meu imperativo, afirmativo e negativo. Tudo isto porque durante esta semana aprendi muita coisa. Sim, aprendi muita coisa! Como ?! Dando aula (ou, talvez vendendo aula) e prestando atenção no que se passa ao nosso redor. Eis algumas descobertas:
. A vírgula é de grande importância no nosso dia-a-dia, pois se não a usarmos de forma adequada podemos perder todo o sentido de uma frase, de um texto, quiçá de nossa vida;
. O adjunto adverbial, quando no final da frase, não pede a vírgula; no entanto, se deslocado do seu habitat natural, não consegue viver sem ela;
. Carpe Diem não é uma filosofia vã e sem fundamento, contrariamente, é o correto aproveitamento de cada instante, com responsabilidade e objetividade.
O que temos até aqui são apenas descobertas escolares; o mais importante, aparentemente, muitos ainda não são capazes de compreender: Secas intensas, terremotos avassaladores, chuvas catastróficas, frios insuportáveis, o derretimento das geleiras polares, o efeito estufa... Será que a natureza não está nos dando algum aviso importante?
Mais uma vez, por favor, vai até a janela e, por favor, dá uma olhada no tempo. Veja direitinho. Vai chover?

Um abraço do poeta!


Coração de Jesus

segunda-feira, 26 de abril de 2010

UMA QUESTÃO LINGUÍSTICA

- Garçom. Uma língua, por favor!
Seria fabuloso estupendo
Se a cada dia
De acordo com meu humor poeta
Me pudesse dispor de uma língua:

Hoje o inglês
Amanhã o italiano
Depois o francês.
Um dia, quem sabe,
Sairia por aí cantando
Umas modinhas em javanês.

- Garçom. Uma língua, por favor!
Mas eu quereria que fosse quente
Apimentada por gestos e sentires.
Uma língua em cujas saliências
Eu fosse capaz de sentir e velejar.

Hoje o Tupi
Amanhã o português
Depois um dialeto.
Um dia quem sabe
Sairia por aí falando
Recitando estes versos pra vocês.

Coração de Jesus

domingo, 25 de abril de 2010

ANTÍPODAS





A régua tenta alinhar
A vida.
O destino, porém,
Teima em deixar tudo
Exatamente como está.


Coração de Jesus 25/03/2009

sábado, 24 de abril de 2010

CARVOEIRA

“Eu já não cria que existisse mais”



Muito era tarde demais.
Na cacimba, uma gia filtrava a água ;
Antônio cortava lenha nos eucaliptos
no meio de onças , cobras, cabras e
passarinhos e outros tantos bichos;
um litro de pinga tilintava geladinho
na anca fria de um triste cupim.
Quanto dó eu tinha de Maria,
na beirada do fogão
até o cair da noite
molhando a barriga negra na bacia
até que a tarde caísse
se dando no jirau duro e barulhento
até que raiasse o dia
Sonhando um horizonte todo azul
a cada serviço que fazia.
Já disse que muito era tarde demais...
na cacimba gota d'água não mais tinha;
o fogo a lenha queimou;
Antônio, a onça comeu ;
os bichos, a seca matou ;
Maria (quanto dó eu sentia),
de tristeza, prá vida morreu.



Montes Claros 25/05/2004

quinta-feira, 22 de abril de 2010

NO DIA DA MINHA MORTE

Não haverá tiros
Nem fogos
Nem danças
Nem homens
Nem mulheres,

Apenas o silêncio.

Luís Pires de Minas 22/04/2010

LABIRINTO

Tudo numa régua
Alinhado
Alinhavado
E a poesia transcrita
No labirinto da razão.

O CASO DOS POMBOS

O CASO DOS POMBOS

ELISMAR SANTOS

Em tempos de globalização, internet, televisão e alto índice de pedofilia, eis que o Fernando me vem com histórias de pombo. É incrível, mas parece que ele tem mesmo sangue doce para estas histórias de antigamente.
Era a hora do recreio e enquanto descansávamos, obviamente, falávamos sobre o assunto de que nenhum professor gosta, mas todos falam na hora do descanso: alunos.
Dentro da sala dos professores fazia um ar pesado, tenso, com um quase insuportável cheiro de giz. Mas o Fernando veio para nos salvar a manhã e, felizmente, esta crônica:
Um dos seus alunos, durante uma de suas aulas de Inglês, pediu-lhe, quase chorando, que ordenasse ao outro para lhe devolver um caderno que havia pegado de sua carteira. Firmemente, o professor ordenou que o meliante, digo, o aluno, devolvesse o caderno do colega; quando foi prontamente negado:
- Não devolvo!
O professor, assustado com a recusa, sentiu-se na obrigação de mostrar firmeza:
- Devolve, moço! Senão lhe dou uma advertência! – Mas o resoluto menino insistia em seu propósito:
- Não devolvo, não. Só devolvo quando ele soltar meus pombos!
- Pombos!?!
- É. Ele pegou meus pombos! E eu só devolvo o caderno quando ele soltar os pombos.
Já no final do recreio, na hora de voltar pra sala de aula, confesso que não conseguia olhar para a cara do professor sem dar-lhe umas boas gargalhadas. E, ainda, para tirar sarro, perguntei:
- E aí, os pombos eram pretos ou acinzentados?!

Coração de Jesus, 21/ 04/ 2010.

domingo, 18 de abril de 2010

A MENINA E O TEMPO

A MENINA E O TEMPO

ELISMAR SANTOS

Ela era uma menina bonita, apenas isso. Não tinha nenhuma qualidade especial; não sabia fazer nada que chamasse a atenção; enfim, era uma pessoa comum. Mas tinha alguma coisa que atraía.
Não sei bem o que era, mas tinha. Sempre que ela passava pela rua, olhávamos indiscretamente, observávamos o seu caminhar, o seu rebolado, os cabelos dançando no espaço vazio como se fosse uma bailarina no meio de um espetáculo.
Não havia espetáculo. Era somente ela que passava, com seu corpinho magro, suas pernas secas e seus seios pequenos. Talvez fosse isso que chamasse a nossa atenção: a sua falta de atrativos. Era apenas uma menina bonita, mas era uma menina, e isso nos bastava.
Nunca tivemos coragem de nos aproximar. Olhávamos apenas, sentados às mesas ou nas calçadas dos botecos, enquanto ela passava sem dar-nos a mínima. Não, ela não era burguesinha, não era prosa, nem cheia de meneios, era apenas uma menina; uma menina com o quê de menina que todas elas têm.
Um dia fui embora. Viajei por vários lugares; sentei em várias mesas e calçadas de botecos, talvez à procura daquela menina, mas nunca a encontrei. Voltei, depois de muito tempo, talvez na espera de reencontrá-la. Lembrava-me sempre daquela menina sem atrativo que passava de frente aqueles homens bêbados com seu quê de menina e seus cabelos bailarinos.
A cidade estava como antes, a não ser pela profunda tristeza que pairava no ar. Fiquei por vários dias ali, sentado de frente o boteco, talvez a sua espera. Ela não passou. Com o coração abatido, perguntei ao dono do boteco por ela. No que ele me disse, contrito, que ela havia morrido. O que havia agora era uma mulher. Não uma mulher feia, mas desgastada pelo tempo, sem a juventude que embeleza a todos nós.
Tristemente, tomei meu último gole. Preparava-me para sair quando de frente ao boteco uma senhora passava arrastando dois moleques, um em cada mão segurado. Não tinha a beleza de antes, mas os cabelos dançavam como se fosse uma bailarina em meio a um eterno espetáculo.




Um abraço do poeta!


Coração de Jesus, 04/ 04/ 2010.

BOM DIA PARA NASCER

As palavras que titulam esta postagem é Otto Lara Resende. Mas, convenhamos, Domingo é, de fato, um bom dia para nascer. Este dia conota tranquilidade, paz e, principalmente, reflexão. Eis, então, o que, espero, você há de encontrar aqui: reflexões.
Utilize este espaço para pensar. Pensar a vida, a morte, a alegria, a dor. Enfim, pense; pois apenas assim existimos de fato. Para ajudá-lo nesta árdua tarefa - refletir - aqui hei de colocar: poesias, crônicas, contos e, como não poderia deixar de ser, um pouco de mim.
Um grande abraço do poeta!